Gosto muito de romances policiais.
Comecei cedo, ainda mal entrara na adolescência!, pelos grandes autores norte-americanos de entre as duas guerras - Hammett, Chandler, McDonald e outros - que recorriam ao género para melhor denunciar uma sociedade dividida em classes e onde políticos e capitalistas venais acabavam invariavelmente por vitimar os mais desprotegidos.
Adorei Simenon, que descrevia ambientes complexos apesar de, invariavelmente, cingidos às personagens mais influentes das pequenas vilas onde Maigret permanecia por alguns dias.
Nos anos mais recentes tem sido o fascínio pelos autores escandinavos, particularmente pelos livros dedicados ao inspetor Wallander e escritos por Henning Mankell que questionam os tabus e os segredos de sociedades abastadas, mas com muitos rabos de palha escondidos no sótão.
De Camilla Läckberg li agora «Ave de Mau Agoiro», datado de 2006. Não me entusiasmou, mas vislumbrei-lhe algumas das características, que me levam a gastar horas neste tipo de leituras e considera-las mais do que um mero entretenimento: a denúncia da estupidez do tipo de programas como os que teresa guilherme apresenta entre nós; a incomodidade das pequenas comunidades provincianas em lidar com as uniões entre casais do mesmo sexo, a adoção de crianças ou a violência doméstica. Nesse sentido posso considerar que o romance serve o propósito de, através da ficção questionar a realidade em que se insere.
O que me faz colocar a prosa de Läckberg noutro patamar, manifestamente inferior ao de Mankell, é o facto de criar uma trama bem menos crível porque demasiado artificial. Um romance não precisa de inventar voltas e reviravoltas em torno dos personagens - a maior parte das quais até se revela dispensável para a sustentabilidade da história - para parecer mais ambicioso. Uma depuração de uma centena de páginas às três que constituem o romance até poderia contribuir para o tornar bem menos maçudo do que o é nalgumas das suas partes.
Mas estou a falar de que tipo de história?
A poucas semanas de casar com Erica, de quem já tem uma filha a ensaiar os primeiros passos, Patrick lidera a equipa policial da esquadra de Tanumshede a desvendar as razões, que estiveram na origem de duas mortes criminosas: a primeira fora a de Margit, conhecida por ser abstémia e, porém, morrera num acidente de automóvel quando estava completamente embriagada. A outra passa-se entre os concorrentes do reality show, que estava a ser emitido a partir da comuna com o cadáver de uma das raparigas, Barbie, a aparecer num contentor do lixo.
Depressa Patrick relaciona a morte de Margit com outras ocorridas nos últimos anos, um pouco por toda a Suécia. Com um padrão comum: todos os que tinham morrido encontravam-se ébrios na altura do desenlace, mesmo não tendo na maioria hábitos alcoólicos, e com uma página de um velho livro de «Hansel e Gretel» ao seu lado.
Embora passe grande parte dessas semanas a apanhar bonés, Patrick conseguirá desvendar a verdade, ainda antes de comparecer com Erica em frente ao altar. E, para sua surpresa, quem procura pode estar perfeitamente a seu lado, a integrar a sua equipa investigadora, na forma de uma nova colega para ali recentemente transferida e que passara por todas as outras cidades onde casos similares tinham sido deixados em aberto...
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