Charles Plisnier foi um escritor belga de expressão francesa, que viveu entre 1896 e 1952.
«Falsos Passaportes» é uma coletânea de contos e novelas cujo tema principal é a vida e os dramas internos do movimento comunista de acordo com a experiência de vida do próprio autor.
Plisnier foi, de facto, membro do partido e presidente do Socorro Vermelho Internacional, antes de se deixar seduzir pelo trotskismo e ver-se expulso no Congresso de Antuérpia.
Conjuntamente com as obras de Victor Serge, este livro ajuda a compreender a crise por que passou o Partido Comunista nos finais dos anos 20, sem cair na maledicência em relação aos antigos camaradas.
Nestas histórias vividas, o homem e o partido entram em contradição, com aquele a ter de se submeter o mais possível às exigências coletivas mesmo à custa da máxima abnegação. É esta capacidade de entrega, que caracteriza personagens tão diferentes como Ditka, a “terrorista sérvia” que se orgulhava de ter como tesouro as cicatrizes vermelhas no sítio onde haviam estado os seios, arrancados pela polícia, e que morre enforcada em Sofia. Ou Carlota, capaz de sacrificar o amor à justiça do partido, quando descobre que o homem amado traíra a causa.
Em «Falsos Passaportes», Charles Plisnier mantém-se firme na fidelidade à ideologia marxista.
«Maurer», a segunda novela, é a transcrição romanesca de um lugar comum do comunismo: a oposição frontal do psicológico com a vertente económica. Pilar Guilhen y Ariaga, oriunda de uma família aristocrática espanhola, torna-se numa estudante comunista. O narrador começa por a considerar uma mera intelectual disposta à luta por saber que “a sua classe está condenada pela História” e por isso aposta numa revolução, que nada tem a ver com os seus gostos mais secretos, quer estéticos, quer relacionados com o luxo.
Na realidade, em Pilar o sentimento mistura-se intimamente com as considerações “científicas”, que formula: ela é a amante, a “companheira” de um revolucionário espanhol, Santiago Maurer. Acompanha-o numa vida tão perigosa como marcada pela mais negra miséria. E é esta última, que acaba por não conseguir suportar. Por isso decidirá regressar a casa dos pais, enquanto Maurer é morto pela polícia.
Na última novela, «Iegor», Plisnier evoca os famosos processos de Moscovo, onde desapareceram tantos velhos bolcheviques. As divergências entre o escritor e os novos chefes do comunismo não são propriamente ideológicas, mas morais e sentimentais.
Para Iegor, que possui uma lógica implacável, existem por um lado as veleidades individuais e por outro o Partido “contra o qual nunca se pode ter razão”. Por isso Iegor irá até ao limite da sua fidelidade: quando ele próprio põe em causa a unidade do partido, decide submeter-se e reconhecer crimes imaginários, que sacrificam a sua honra em proveito da Revolução.
«Falsos Passaportes» ganhou o Prémio Goncourt em 1937 e revela-se um retrato muito interessante sobre os costumes comunistas. Em nenhuma das suas páginas se adivinha ponta de rancor: quase se poderia dizer que, no fundo, o autor dá razão a esses protagonistas, que entram em contradição consigo mesmos.
A inserção de alguns personagens reais e de grandes acontecimentos históricos, associados à preocupação com os pormenores, dão ao livro uma credibilidade, que seduz. Quanto ao seu valor literário fica marcado pela entrada da política como tema principal da obra romanesca...
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