A maioria dos espetáculos, que estão disponíveis nos palcos portugueses, têm aquela característica tão do agrado de quem a eles assiste: são sempre mais do mesmo. Como espectadores os portugueses lembram aquele personagem de um filme da Marguerite Duras, que se recusava a ir à escola por só lá ensinarem o que ainda não sabia!
Vai-se ver o Tony Carreira e tem-se garantida a música pimba, que dele se pode esperar. Vai-se ao São Carlos para uma ópera em versão de concerto (que o dinheiro do Ministério da Cultura não dá para mais!) e lá temos a orquestra, o coro e os solistas a fazerem os possíveis para se ajustarem às orientações convencionais do maestro. E o mesmo para quase tudo quantos passa pelos coliseus, pelas salas e festivais das nossas principais cidades.
Às vezes vemos reconhecido o direito a sermos surpreendidos, até mesmo encantados, por sons que fazem toda a diferença por se inscreverem numa lógica milenar do que é o Belo.
Uma dessas oportunidades únicas aconteceu a noite passada na Gulbenkian com a atuação de Kayhan Kalhor e Erdan Erzincan.
Mais do que o encontro das músicas tradicionais da Pérsia e da Anatólia, eles executaram-nas como elo de diálogo entre culturas e tornando-as intemporais, valendo-lhes por isso mesmo o assumido recurso ao improviso.
Quem assistiu teve direito àquilo que Mário Lopes no «Público» qualificou como a beleza a dobrar. Quem lá não esteve tem aqui, em alternativa, o registo do espetáculo ocorrido há oito meses em Paris…
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