Em 21 de novembro de 2103 iniciou-se a revolta da Praça de Maidan , embora só se tenha verdadeiramente convertido numa espiral de violência a partir de 18 de fevereiro de 2014, quando oito dezenas de mortos constituiu o saldo de confrontos diretos entre a polícia e os manifestantes. Ou seja, passa agora um ano em que se conjugou a impopularidade do governo corrupto (mas legítimo, porque avalizado por eleições que ninguém contestou!) de Viktor Ianukovitch, a eficaz atuação dos serviços secretos ocidentais apostados em humilhar ainda mais a Rússia enfraquecida com a derrota na Guerra Fria e as ilusões de milhares de ucranianos em como se converteriam em europeus com as carteiras cheias de euros logo no dia seguinte, para se atiçar uma guerra civil, que já conta com milhares de mortos e um número indefinido de feridos e de desalojados.
Desde o início da crise, três operadores de câmara uniram esforços para filmarem os acontecimentos dos dois lados das barricadas. É assim que depressa compreendem como as fronteiras entre o Bem e o Mal se tornam demasiado fluidas não coincidindo propriamente com um e outro lado.. Há gente a fugir, outros tombados no chão, alguns tornam-se em tochas humanas enquanto fabricavam cocktails Molotov ou incendiavam pneus.
Um manifestante a tentar impedir os companheiros de luta de lincharem um polícia, que conseguiram capturar. Um velho que tudo faz para proteger a estátua de Lenine de ser vandalizada, sofrendo com tal barbárie e cobardia. Um sacerdote a incentivar os compatriotas dos dois lados a racionalizarem as emoções…
Neste filme sem comentários nem entrevistas, as sequências em bruto vão fluindo, algumas vezes com o seu quê de insustentável.
Oleksandr Techynskyi, Aleksey Solodounov e Dmitry Stoykov mostram como a situação foi-se agravando até atingir a dimensão do horror, ainda que alternando com alguns belos planos e com a inegável coragem de muitos dos protagonistas, incluindo os próprios cineastas.
Podemos, porém, assinalar alguma estranheza por nunca aparecerem claramente identificados os neonazis, que tanto primaram por se conotarem como tal, nem por se abordar a singular questão de quem estava a financiar toda a organização dos rebeldes de Maidan. Quem lhes pagava os alimentos, o material pirotécnico, as armas, os remédios e outros materiais e serviços sem os quais o movimento estaria condenado ao fracasso. E há que reconhecer os limite do projeto, porquanto na vontade de não propor a leitura em off ou por interpostos comentadores de tudo quanto se estava a mostrar, o tédio acaba por se instalar...
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