O tema do Alzheimer interessa-me de sobremaneira, ou não tenha tido um pai e uma sogra a sucumbirem da doença e eu próprio já me abeirar dos sessentas. E se um filme sobre tal doença é protagonizado pela Julianne Moore - ademais galardoada com o Óscar para a Atriz Principal - é claro que justificava dedicar-lhe um par de horas.
Afinal, ainda que não saindo propriamente defraudado, também estive longe de sair entusiasmado.
Os lenços que levei para eventual dar largas à comoção, regressaram enxutos. (Já não há melodramas, daqueles de fazer chorar as pedrinhas da calçada, como os do Douglas Sirk!). E, para quem viveu tal realidade na prática, nada daquilo é novidade.
Continuando a ser uma das doenças mais desesperantes, o alzheimer constitui uma ameaça latente em quem vai avançando nos anos crepusculares da sua vida. E para a qual tendemos sempre a atender às promessas de cura para um breve , que se vai desesperadamente adiando.
Podemos sempre inquietar-nos com o facto de a doença não poupar quem teve uma atividade intelectual bastante preenchida. E confirmarmos a inevitabilidade de ceder à progressiva ausência de si, apesar de todos os artifícios, que se possam arranjar para prolongar a funcionalidade aparente durante mais algum tempo.
O mais incompreensível é chegar-se ao ponto de um paciente não reconhecer o conjugue com quem partilhou toda uma vida ou os filhos, que nasceram desse esquecido Amor.
Mas «O Meu Nome é Alice» é um filmezinho estimável, que não teria grande destaque se não contasse com Julianne Moore como sua protagonista. Mesmo não se tratando de uma das suas mais memoráveis interpretações.
Há muitos anos, quando dei com a Frances McDormand no «Fargo» convenci-me de estar a ver o merecido Óscar na cerimónia ainda prevista para daí a alguns meses. Em cada cena havia um gesto, uma expressão, que iam para além da mera ilustração da personagem. Às tantas a história perdia interesse em proveito do desempenho da atriz. E não me enganei, pois a Academia reconheceu a excelência do trabalho daquela que é uma das mais menosprezadas atrizes de Hollywood.
Com este papel de Alice Howland , Julianne Moore não consegue surpreender, não vai além do que já lhe vimos fazer. Se só agora levou a estatueta foi apenas, porque os Óscares vão parar previsivelmente às mãos dos que protagonizam papéis de doentes ou de deficientes.
O seu prémio ajusta-se bem a uma colheita não muito entusiasmante. Muito embora me tenha agradado o «Grand Budapest Hotel» ou a biografia de Alain Turing, nenhum dos filmes mais badalados mereceria a distinção comparativamente com alguns dos anos anteriores. Excetuando, é claro, o documentário de Laura Poitras sobre Snowden, ou o filme polaco «Ida», que foi reconhecido como o Melhor Filme Estrangeiro.
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