Os últimos dias têm sido marcados pelo funeral da troika, essa entidade poderosa, que obrigou a pôr parêntesis na Democracia nalguns países da União Europeia nos últimos cinco anos e agora se viu consensualmente execrada por imposição do novo governo grego.
Bem podem os suspeitos do costume arengar com o facto de só ter existido uma alteração semântica de troika para instituições, mas ela comporta bem mais do que isso. É que, como Jean Claude Juncker decretou com a sua autocrítica sobre a violação da dignidade dos povos, dificilmente voltaremos a contar nos próximos tempos com mangas de alpaca a dar ordens a políticos eleitos pelos seus povos para que governem assim ou assado.
Nem que fosse por isso já teria valido a pena a vitória do Syriza.
Daí a feliz coincidência da estreia, amanhã no canal franco-alemão ARTE, do documentário “A Troika: Poder sem controlo” de Harald Schumann e Árpád Bondy.
O jornalista Paulo Pena, do «Público», que já a ele assistiu na antestreia em Berlim, elogia-o por se tratar de um documento muito revelador sobre tudo quanto ela representou. E, sobretudo, pelos efeitos nefastos que resultaram das medidas de austeridade por elas impostas. Só os que se submeteram a elas sem se atreverem a pô-las em causa - pelo contrário até adotando-as como o seu próprio programa político! - é que tremem perante o avassalador naipe de testemunhos, que quotidianamente vão dando fundamento à conclusão sobre tudo ter corrido mal desde o início. Sobretudo devido a essa arrogância de quem, sem receber mandato de nenhum eleitorado, se quis sobrepor a todos eles, com um inquestionado poder absoluto.
O prestigiado jornalista alemão Harald Schumann, que já fora autor do documentário “Quando a Europa salva os seus bancos, quem paga?”, deslocou-se à Irlanda, à Grécia, a Portugal, a Chipre, a Bruxelas e aos Estados Unidos para falar com ministros, economistas, advogados, banqueiros, vítimas da crise e com Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, que explica porque não funciona esta política recessiva.
No seu texto no «Público», Paulo Pena elogia o trabalho de um alemão disposto a “querer saber o que maioria das instituições europeias ignoraram durante quase quatro anos: como foi possível que ‘um pequeno grupo de funcionários não-eleitos recebesse o poder de mudar radicalmente alguns países?’”.
E, para tudo ainda se tornar mais paradoxal há o picante de saber que Harald Schumann é grande-repórter do diário “Der Tagesspiegel”, onde tem como editora a filha do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário