Já passaram quase cinco anos sobre o acidente na mina chilena de Copiopó. Trinta e três homens estiveram encurralados durante sessenta e nove dias a setecentos metros de profundidade, enquanto milhões de pessoas de todos os continentes partilhavam da ansiedade quanto a uma possível salvação.
No local montou-se um circo mediático, que cuidou de divulgar mistificações destinadas a fomentar o interesse dos leitores de jornais e revistas e dos espectadores dos canais televisivos, de forma a garantir o respetivo aumento de vendas ou de audiências.
A imagem de trinta e três homens irmanados em sentimentos de solidariedade e dirigidos competentemente por um Mario Sepúlveda, que teria assumido o papel de líder ficou cristalizada nas nossas mentes.
A realidade, essa, acaba por se revelar completamente diferente, quando se lê o livro «Deep Down Dark» de Hector Tobar, sobre o que realmente ali se passou e resultante das muitas entrevistas com todos eles.
Hector Tobar descobriu, assim. uma enorme diferença entre a lenda e a realidade. E, ao contrário do proposto por John Ford, escolheu a segunda.
Encontramos, assim, o clima de tensão entre esses sobreviventes, com alguns deles a apossarem-se da maioria dos alimentos logo no primeiro dia, agravando por isso a fome dos restantes.
Desmente-se a liderança bem sucedida de Sepúlveda, que se revelou afinal um autocrata praticamente desprezado pelos que pretendia chefiar.
E revelam-se as terríveis sequelas da experiência com alguns deles a resvalarem para o alcoolismo ou para as tentativas de suicídio.
Em suma, a verdade sobre esses sessenta e nove dias de muito stress, com homens privados de quase tudo, mas desde muito cedo conscientes de se terem tornado protagonistas de um reality show , acaba por ser muito mais interessante do que as histórias da carochinha com que durante tantos dias nos quiseram embalar.
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