Não é que desconheçamos tratar-se de tragédia a repetir-se quotidianamente um pouco por todo o mundo, mas ver um filme de 27 minutos - «Un rein à tout prix» de Louis Gildo-Rosso - sobre essa realidade permite-nos dar rosto a muitos dos que participam, como vítimas, ou como algozes, no intolerável tráfico de órgãos humanos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde e o Conselho da Europa trata-se de um fenómeno em expansão, já alimentando 10 a 15% das transplantações de órgãos efetuadas globalmente. Ou seja, as redes internacionais de tráficode órgãos já fornecem mais de dez mil dos que são utilizados nas cem mil transplantações realizadas anualmente.
Desses órgãos o rim é o mais transplantado. E a Índia, com quatro mil casos anuais, ocupa o segundo lugar mundial na lista de países onde tal cirurgia se pratica. O problema é que, com o aumento dos problemas de diabetes e de hipertensão, já sobem a 90 mil os que esperam por esse tipo de tratamento.
Segundo a lei indiana, deve existir um inequívoco laço familiar entre o doador e quem recebe o seu órgão. No entanto, com a penúria de doadores compatíveis dentro desse círculo restrito de potenciais doadores, surgiu a oportunidade para florescer o comércio clandestino de órgãos sem olhar a fronteiras.
Foi com surpresa que as autoridades nepalesas descobriram recentemente que, nas suas zonas mais pobres e afastadas das grandes cidades, onde dominam a pobreza e o analfabetismo, os camponeses costumam viajar para Calcutá para aí venderem um dos seus rins. Em certas aldeias não há família, que não tenha em má hora embarcado na ilusão de um negócio sem consequências. É que sem apoio médico pós-operatório elas acabam por se revelar terríveis...
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