O assassinato do jornalista Marat por Charlotte Corday em 13 de julho de 1793 continua a ser um dos momentos determinantes da Revolução Francesa.
O célebre quadro de David contribui em muito para essa relevância: logo no dia seguinte ao crime, o pintor - que militava nos Montanheses - foi incumbido de homenagear o fundador do jornal «O Amigo do Povo». Grande parte dos meses seguintes serão dedicados a criar um dos seus mais notáveis quadros. Mas basta isso para que tal imagem se torne num ícone revolucionário?
Em 2008 um perito parisiense descobriu um quadro mais pequeno muito semelhante a essa obra-prima. E justificou-se a dúvida: se também saiu das mãos de David poderia contribuir para melhor explicar a génese da obra e as intenções políticas do seu autor?
A composição revisita a cena do crime com a cor verde do lençol a simbolizar a contrarrevolução. O Amigo do Povo a agonizar com uma pena na mão enquanto tomava banho. No chão, a arma do crime manchada com o sangue da vítima.
As cartas que rodeiam Marat? O texto foi alterado para mais acentuar a dramatização.
Exposta nos museus reais das Belas Artes da Bélgica, em Bruxelas, a pintura continua a gerar um efeito impressivo, que o documentário irá demonstrar nada ter de espontâneo.
Recorrendo ao contributo de especialistas do período da Revolução, de historiadores de arte e sobre os raros esboços atribuídos ao chefe de fila dos neoclássicos, Martin Fraudreau reconstitui o percurso da obra, enquadrando-a no percurso do pintor e na sua época.
Assumidamente criado enquanto ferramenta de propaganda política - David e Marat eram deputados pela mesma tendência política - o quadro será pendurado na Convenção e apresentado no Palais Royal na altura em que Maria Antonieta se prepara para ser guilhotinada.
Embora não evite uma progressão algo confusa baseada numa sucessão de perguntas sistemáticas e de algumas reconstituições sóbrias mas dispensáveis, o filme consegue dar-nos informações interessantes sobre a obra em causa.
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