Em dezembro de 2014 as forças do chamado Estado Islâmico cercaram as montanhas do Sinjar, a oeste de Mossul. A população constituída por curdos yézidis, muçulmanos e cristãos ficou prisioneira nas suas aldeias com o garrote a apertar-se dia-a-dia. A única forma de chegar aos sitiados era por helicóptero, que ia trazendo víveres e munições.
No início do mês o realizador Xavier Muntz apanhou boleia desse transporte e foi passar vinte dias com os combatentes curdos, que estão na linha da frente num dos bairros de Sinjar. Descobre combatentes mal equipados, quase abandonados à sua má sorte: em dezassete dias os norte-americanos só atacam os sitiantes por duas vezes em contradição com o que é prometido pelas forças da coligação.
Xavier Muntz pode filmar as operações mais audaciosas concretizadas pelos curdos contra as posições islamitas. Acompanhou snipers e grupos de guerrilheiros, que avançavam rua a rua, casa a casa. Filmou as noites de espera e os debates entre os combatentes yézidis (zoroastrianos que praticam uma das mais antigas religiões monoteístas) e os muçulmanos reveladores de uma tolerância mútua. E também uma reunião feminista no meio da ofensiva com uma graduada a instruir os soldados sobre a importância da igualdade entre homens e mulheres. Ou ainda um voluntário norte-americano, que decidira vir lutar ao lado dos curdos e ainda não estava em si, porquanto ligado ao partido republicano, via-se agora a combater numa guerrilha marxista.
Após duas semanas de luta sem tréguas e com o apoio de reforços vindos da Síria, os curdos obrigaram o Daech a recuar, naquela que é a sua primeira grande derrota. E já pensam em recuperar a cidade de Mossul, que os inimigos converteram entretanto na capital do seu proclamado califado.
O que o filme de Xavier Muntz demonstra é que, por mais terrível que seja uma guerra, é bastante menos atrativa relativamente à retratado nos filmes de Hollywood. Porque os que estão do outro lado da linha da frente são praticamente invisíveis.
Não fossem os disparos ouvidos dos amontoados de ruínas onde consolidaram posições e os que vão sendo feridos deste lado e quase desconfiaríamos se estariam de facto tão perto. Mas um dos curdos é atingido no pescoço logo no seu primeiro dia de combate e, dias depois, a guerrilheira, que lhe ministrara os primeiros socorros, também se vê atingida no rosto.
Retrato cruel de uma guerra, que se anuncia prolongada «Cercados pelo Estado Islâmico» também elucida a razão para que tantos jornalistas engrossem a lista das vítimas deste tipo de conflitos. O operador de câmara é quase suicida quando corre em campo aberto para acompanhar o avanço dos seus anfitriões. Ter saído dali incólume foi uma questão de sorte...
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