A história foi contada pelo próprio na edição de anteontem do «The New York Times»: até há um mês atrás, Oliver Sacks sentia-se em forma, apesar dos seus 81 anos de idade. Diariamente até se dedicava a nadar uma milha. E, no entanto, exames médicos de rotina revelaram estar com metástases muito avançadas no fígado, que mesmo retardadas por medicamentação, não conhecerão recuo. Elas terão tido origem num tumor supostamente curado há nove anos num dos olhos, que acabara por cegar, e cuja possibilidade de desenvolver metástases só era conhecida em 2% dos casos. A “fava” terá saído desta vez a Sacks.
Temos, pois, a confissão testamentária do psiquiatra de «Awakenings» - o filme em que Robin Williams o interpretou no papel de um médico capaz de, por algumas semanas, dar esperanças de recuperação total a alguns pacientes até então sujeitos a estado vegetativo, muito embora viesse dolorosamente a concluir quão breve durara esse lampejo de esperança.
Existe conformismo no texto, que ele intitulou «My Own Life», a exemplo de um dos seus filósofos de eleição: David Hume. Em 1776 fora também esse o título por ele escolhido para, num só dia, escrever a sua autobiografia e proceder ao balanço de tudo quanto fizera.
Muito embora encare a morte anunciada com serenidade (“não posso fingir que não tenho medo, mas sinto sobretudo gratidão!”) , Oliver Sacks não deixa de reconhecer que quando alguém morre, ninguém o poderá substituir, porque foi único, diferente de qualquer outra pessoa.
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