sábado, fevereiro 08, 2020

Galerias: O notável talento de Van Dyck na adolescência, incumprido na vida adulta


Van Dyck terá pintado o autorretrato que acompanha este texto, quando tinha catorze anos. Foi algures em 1613 e ele explicita o precoce engenho de um artista, que prometia bem mais do que teria possibilidades de legar à posteridade.
A culpa de tal facto pode ser atribuída a Rubens, que lhe era vinte e dois anos mais velho e regressara de Itália no momento exato em que as províncias do sul dos Países Baixos - ainda sob domínio dos filipes espanhóis - procuravam contrapor a exuberância da Contra-Reforma na decoração das suas igrejas ao calvinismo puro e duro das emancipadas vizinhas do norte. Pintor mais admirado de Antuérpia, ele não deixaria escapar a oportunidade de contratar o jovem talento para o seu atelier, atribuindo-lhe as muitas encomendas, que não conseguia satisfazer senão com recurso aos assistentes.
Para escapar a essa dependência hierárquica Van Dyke foi para Londres onde o rei, Carlos I, o nomeou pintor oficial da corte mas mal teve tempo para corresponder aos pedidos de retratos para que o convocaram. Resultado: os temas históricos ou bíblicos, os mais favoráveis para dar mostras do seu pleno talento, perderam a prioridade e rendeu-se ao estatuto privilegiado que aí usufruía.
Na década de 30 desse século ainda quis aproveitar a oportunidade da nomeação de Rubens como embaixador para lhe ocupar o espaço deixado vago em Antuérpia, mas essa ausência apenas durou dois anos, pelo que teve de devolver ao antigo mestre a primazia, que todos lhe reconheciam por direito. E, no entanto, os especialistas da obra de Van Dyke consideram que as obras produzidas nesse regresso à cidade natal terão sido as mais interessantes de quantas criou. Em todas existe a segurança na pincelada, que os instrumentos de imagiografia mais avançados confirmam e o revelam bem mais espontâneo do que aquele que sempre o assombrou.
A morte de Rubens em 1640 poderia facilitar-lhe o reconhecimento, que o talento justificara, mas adoeceu tão gravemente que também ele desapareceria no ano seguinte, quando só contava 42 anos.
Para a História da Arte, Van Dyck ficaria como exemplo elucidativo de quem em jovem tanto prometeu, mas ficou aquém de quanto se lhe prognosticara nos anos da maturidade.

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