terça-feira, fevereiro 04, 2020

Descolonizações: Uma heroína indiana


Manukarnica, a rainha de Jhânsi, nasceu em 1828 numa Índia riquíssima graças à quantidade prodigiosa de tecidos e especiarias, que eram exportadas para a longínqua Europa em regime de monopólio através da mais influente empresa privada da época - a Companhia Britânica das Índias Orientais. Esta conseguira arrebanhar imensos territórios graças à bem sucedida estratégia de fomentar as guerras intestinas entre os vários soberanos indianos e concentrando na península indiana um potente exército.

O único problema que a Companhia enfrentava era o facto de contar 200 mil indianos entre os 250 mil militares do seu exército. Eram os  Cipaios cuja lealdade estava longe de ser dada como garantida.
Manukarnica cedo viria a demonstrar-se diferente das demais princesas. Ainda criança aprendeu a ler, a escrever e a recitar poemas, mas também a combater e a montar a cavalo. Como se o pai pressentisse o que o destino lhe reservaria.
Aos 25 anos enviuvou do marajá de Jhânsi sucedendo-lhe no trono. Mas o reinado será breve, porque a Companhia das Índias Orientais anexou o território a exemplo do que estava a fazer por toda o subcontinente . O que suscitou a cólera crescente de quem vivia nas cidades ou nos campos, era aristocrata ou camponês. Os próprios Cipaios começaram a dar mostras de nervosismo.
Em maio de 1857 irrompeu a revolta. Regimento a regimento os Cipaios viraram-se contra quem os comandava. E em Jhânsi os militares britânicos e respetivas famílias foram massacrados. Manukarnika viu chegada a hora de recuperar o trono.
Porque sabia que os britânicos não tardariam a replicar, tentando reaver aquilo que haviam roubado, criou um batalhão com catorze mil mulheres-soldado e organizou o reforço das defesas da cidade.  E, de facto, na primavera de 1858, veio o contra-ataque britânico com uma batalha feroz de parte a parte, destacando-se Manukarnica no comando do súbditos. Em número eles eram muito superiores aos ingleses, mas não contavam com o recurso por eles detido para compensar essa inferioridade: os poderosos canhões que, durante duas semanas, fustigaram as muralhas durante o impiedoso cerco.
Quando conseguiram entrar na cidade os britânicos não pouparam ninguém: milhares de homens, mulheres e crianças foram chacinados.
Antes de ver os invasores pilharem-lhe o palácio Manukarnica conseguiu fugir para juntar-se a outros resistentes, que a esperavam a 5 kms dali.
Liderando-os, decidiu contra-atacar num esforço desesperado, que terminou com a sua morte em pleno combate.
Apesar de derrotada não deixaria, porém, de ficar recordada como a heroína, que procurara vencer o Império Britânico na altura em que ele parecia invencível.
Inspirada no seu exemplo, uma nova geração de indianos tomar-lhe-ia o testemunho para alcançar aquilo que, com ela, não se revelara possível. Com outros métodos e estratégias... e um inimigo bem mais fragilizado!

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