sexta-feira, fevereiro 14, 2020

Diário das Imagens em Movimento: «Little Man what now» de Frank Borzage (1934)


Margaret Sullavan está luminosa neste que foi o primeiro dos quatro filmes em que Frank Borzage a dirigiu.
Little Man what now? baseia-se no romance de Hans Fallada, que conhecera uma versão alemã no ano anterior e ganhara particular relevância ao surgir quando a América ainda lambia as feridas causadas pela Grande Depressão. Correspondia a um dos temas favoritos do realizador - as dificuldades por que passa um casal à beira da paternidade! - e uma das mensagens, que mais lhe importava transmitir: que, com uma mulher a secundá-lo com o devido encorajamento, um homem vence todas as dificuldades.
Hans vai arranjando e perdendo empregos, ora porque era casado e o patrão só aceitava celibatários, candidatos potenciais a desposarem-lhe a filha, particularmente burra (»e por isso capaz de dar uma boa esposa!»), ora por não se mostrar delicado com um cliente de um grande armazém onde se tornara empregado de balcão.
Emma vai progredindo na gravidez, mas têm de mudar de casa, porque aquela a que se acolheram, à chegada a Berlim, era um bordel gerido pela madrasta dele. Mas, no final tudo acaba em bem sem que, pelo meio, nenhum deles tenha perdido a esperança em que assim viesse a ser.
Embora pareça muito datado o filme tem aspetos, que merecem ser nele realçados: a audácia de alguns temas - o aborto, o bordel - que justificaram a pressa dos moralistas em aprovarem o Código Hays, tanto mais que, cúmulo da pouca vergonha, o casal aparecia a partilhar a mesma cama. Há, igualmente, a preocupação em mostrar como era duro o mundo do trabalho com os patrões a decidirem não só sobre os intensos ritmos de trabalho de quem empregavam, mas igualmente decididos a intrometerem-se nas suas decisões pessoais.
Para além de possibilitar a abordagem de uma atriz talentosa, injustamente esquecida, Little Man what now? constitui um testemunho curioso sobre uma época de crise, que abriria espaço para a afirmação do nazismo. Até pelo facto de toda a história acontecer na República de Weimar durante os anos vinte, quando o ovo da serpente estava a ser chocado...

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