quinta-feira, fevereiro 06, 2020

Diário de Leituras: Retrato de Henrik Ibsen quando jovem


Existe algum consenso em torno da ideia de Henrik Ibsen ter sido um escritor incompreendido e ao qual se colaram etiquetas, que, se aprofundadas, podem ser entendidas como descabidas. Naturalista, simbolista, socialista, anarquista, filósofo, paladino do irracional, revoltado - ele foi um pouco de tudo isso, mas também o quanto para além delas se revelou. Algo, porém, o distinguiu: o de ter sido profundamente norueguês numa altura em que o país ainda não se dissociara da ligação à Suécia.
Se lhe conhecemos, sobretudo, as peças de teatro, que continuam a impressionar pela intensidade e verisimilhança nas relações de forças entre as personagens, mormente entre os homens e as mulheres, o conjunto da obra possui uma diversidade admirável da qual sobressai a criação dessa Dama do Mar cujos olhos mudavam de cor consoante estava o oceano.
Henrik nasceu em Skien em 1828 no seio de uma família numerosa em que o pai derivaria para o alcoolismo na sequência de negócios ruinosos e em que a mãe se devotava a tenaz misticismo. Naturalmente separar-se-iam, razão porque a infância do futuro escritor seria solitária e virada para si mesmo.
Aos dezasseis anos vai para Grimstad, porque arranjam-lhe emprego como ajudante numa farmácia. Nos seis anos em que aí pena, conhece as primitivas paixões, escreve os primeiros poemas caracterizados por um romantismo melancólico e algo macabro, mas também inicia estudos de medicina, depressa abandonados.
Aos 22 anos muda-se para Kristiania (a atual Oslo) interessando-se por política e literatura. Adota então o pseudónimo de Brynjolf Bjarme para publicar a primeira obra, Catilina, drama em verso ainda insipiente, mas já contendo alguns dos seus grandes temas futuros: o da vocação ou o do combate dialético de forças antagonistas na mente humana.
Nesse mesmo ano de 1850 surge outra peça teatral - O Monte do Guerreiro -, que inaugura as muitas obras que dedica ao folclore norueguês. Mas, quando a burila para estreá-la nos palcos de Bergen, em 1854, o sucesso revela-se fraco. Por essa altura assegurava o sustento como jornalista na revista «Andhrimmer», onde assinou poemas, críticas de espetáculos e artigos satíricos.
A experiência teatral vale-lhe, porém, um emprego de assistente de encenador em Bergen durante seis anos, que se revelam fecundos para aprender o que necessita para a futura vertente dramatúrgica da sua obra.
As viagens à Alemanha e à Dinamarca, propiciadas por bolsas atribuídas para tal fim, alargam-lhe os horizontes: além de Shakespeare e Kierkegaard descobre um livro de Hermann Hettner que lhe ensina como, nas peças históricas, o conflito deve ser psicológico e intemporal. Não tarda a traduzir essa lição na primeira peça relevante da sua bibliografia: Dame Inger de Østraat , escrita e interpretada em 1855. A Dame Inger falhava na missão de libertar o povo norueguês, porque sobrepunham-se-lhe os compromissos de esposa e de mãe.
O primeiro sucesso advirá com uma outra peça inspirada nas sagas islandesas, A Festa em Solhaug, datada de 1856, mas logo seguido de um clamoroso fracasso quando, com Olaf Liljekrans, abordava canções populares norueguesas.
Aos 36 anos Ibsen ainda experimentava todos os géneros e familiarizava-se com os diversos estilos.

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