sábado, fevereiro 01, 2020

Estórias da História:quando soou o primeiro grito da revolta contra as colonizações?


Semanas atrás o canal ARTE apresentou uma série intitulada «Descolonizações» que, nos seus três episódios, revelou uma abordagem muito bem estruturada sobre o esbulho de vastas regiões do que chegou a designar-se como Terceiro Mundo para que as burguesias europeias enriquecessem obscenamente.
Num conjunto de textos aqui se explicitará muito do que tais documentários revelaram, mesmo que a colonização portuguesa faça aqui figura de acontecimento secundário.
De início a luta, a revolta, foi sentida como vã, tão desproporcionada eram os meios militares à disposição dos ocupantes. A coragem não faltava, mas acabava invariavelmente na inevitável derrota dos que se precipitavam a assumir esse risco perante armas capazes de dispararem centenas de balas por minuto.
A submissão começou, pois, por constituir uma forma de sobrevivência. Até porque lhes dava a possibilidade de observarem esses seres estranhos, que acreditavam bastar-lhes a força da tecnologia para terem a razão do seu lado. E lá veio o dia em que o poder do colono deixou de impressiona-los. De Nairobi a Saigão voltaram a erguer-se, olhando firmemente nos olhos, quem os andava há muito a explorar. Do Ganges ao Congo depressa se demonstrou que as sementes da revolta estavam plantadas desde o início e a descolonização começara no primeiro dia da colonização.
Não é fácil definir qual foi o primeiro grande momento de revolta contra o poder colonial:  o de Amanquatia contra os ingleses em 1874 em nome dos povos Ashanti? O do sultão do Aceh  em 1873, quando recusou submeter-se aos holandeses? Ou o de Lalla Fatma N’ Soumer em 1854 ao comandar diversas tribos da Cabília contra os ocupantes franceses?
Todas essas lutas existiram e prepararam o que viria a acontecer nas décadas seguintes. Mas nenhuma outra teve tanto impacto quanto a guerra generalizada iniciada na Índia em 1857 e a que os ingleses chamaram a Revolta dos Cipaios. Os indianos, por seu lado, celebram-na como a sua Primeira Guerra de Independência. A liderá-la estava uma mulher admirável, a princesa Lakshmi Bâî, do Reino de Jhânsi, também conhecida como Manukarnika, um dos nomes dados ao rio Ganges.
A ela voltaremos no texto que se seguirá...

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