quinta-feira, fevereiro 27, 2020

Diário das Imagens em Movimento: Retrospetiva da obra cinematográfica de Jorge Silva Melo


Em março parte significativa da programação da Cinemateca será preenchida com a obra multifacetada de Jorge Silva Melo, que tem sido uma das mais importantes figuras da cultura portuguesa  no último meio século. De facto, quem nos inícios dos anos 70 frequentava a Faculdade de Letras dispunha de um notável escol de carismáticos professores. Muito embora nela faltassem os muitos, que se tinham visto afastados do ensino pelo regime de Salazar, ainda ali pontificavam mestres da estirpe de Jacinto Prado Coelho, Lindley Cintra, David Mourão Ferreira ou Manuel Antunes, que tanto estimularam a geração de alunos a que Jorge Silva Melo pertenceu. Por essa altura eram poucas as ofertas teatrais de qualidade nas salas lisboetas e o Grupo de Teatro de Letras, por ele coliderado com Luís Miguel Cintra, constituía alternativa estimulante.
Nada mais natural que, com a Revolução de Abril, o Teatro da Cornucópia surgisse como corolário lógico dessa experiência estudantil tornando-se foco de atração para todos quantos ansiavam pelos grandes textos até então proibidos pela censura. Mormente as peças de Brecht.
A rutura entre os fundadores do Teatro do Bairro Alto consumou-se em 1979 e os caminhos de Cintra e Silva Melo divergiram progressivamente nas décadas seguintes, o primeiro tendendo para o misticismo individualista dos últimos anos da Cornucópia (que, compreensivelmente, se esgotou apesar do fútil empenho de Marcelo para que por mais tempo vegetasse!), o segundo prosseguindo na divulgação de grandes textos, ora clássicos, ora contemporâneos, que faz da Companhia dos Artistas Unidos uma das mais estimulantes de quantas, atualmente, nos oferecem espetáculos teatrais (atenção às “Vidas Íntimas” de Noel Coward, que passa no CCB entre 4 e 8 de março!).
A Cinemateca permitir-nos-á rever toda a sua obra, não só no que comporta de registo de algumas marcantes experiências teatrais (exemplo óbvio é o «E não se pode exterminá-lo?»), de longas e curtas metragens, sem esquecer os excelentes documentários criados nos anos mais recentes em torno de alguns dos principais nomes da arte contemporânea portuguesa (de Bartolomeu Cid Santos a Sofia Areal, de Álvaro Lapa a Nikias Skapinakis, de Palolo a Ângelo de Sousa).
Para quem desconhece a dimensão de Jorge Silva Melo no panorama atual da nossa cultura a oportunidade para se informar é incontornável graças à proposta que a instituição sedeada na Barata Salgueiro apresenta para o próximo mês.

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