quinta-feira, outubro 31, 2019

Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande : Da formulação teórica à comprovação prática da existência de buracos negros


Um buraco negro não é um objeto, nem tão pouco uma brecha no espaço. É antes uma região de fronteira para lá da qual nada pode escapar.
Se tivesse olhado para a sua Teoria da Relatividade Geral, sem preconceitos quanto ao que a razão lhe ditaria, Albert Einstein poderia ter concluído que a deformação do espaço-tempo suscitada pelo colapso de uma estrela com uma massa superior a pelo menos três vezes a do sol criaria uma singularidade no centro de um buraco negro, donde nem sequer a luz conseguiria ser vislumbrada. Ele quedara-se pela genial conclusão da curvatura no espaço à volta de um objeto celeste como efeito da sua massa, concluindo ser a gravitação terrestre o efeito prático dessa deformação causada pela Terra. Não teve o discernimento de Karl Schwarzschild, autor dos cálculos, que transformaram em evidência teórica o que viriam a chamar-se os buracos negros. Falecido prematuramente aos 42 anos, vitimado por uma doença autoimune, onde o teria conduzido o brilhantismo que o levara, a partir dos cálculos das trajetórias de obus observadas nos campos de batalha da Primeira Guerra, a conclusões só confirmadas nas décadas seguintes? É que entre 1916, data do infausto acontecimento e 1931, quando Subrahmanyan Chandrasekhar observou não existirem soluções estáveis para sistemas com massas acima de um determinado limite, passaram quinze anos, a que se acrescentariam mais oito até Oppenheimer e Volkoff publicarem um trabalho seminal com os cálculos do que sucederia com uma estrela de neutrões a colapsar.
Na altura essa hipotético fenómeno celeste ainda não tinha o nome por que viria a ser conhecido a partir dos anos 60, quando John Wheeler o inventou numa altura em que começava a generalizar-se o consenso científico quanto à sua formação na sequência da implosão de estrelas maciças e núcleos metálicos muito densos. Mas para tal também havia contribuído a descoberta de um sinal oriundo da Via Láctea, que os investigadores do Laboratório Bell não souberam, de imediato, explicar qual a sua origem. Seria da análise do espectro das ondas então recebidas, mormente na frequência dos raios X, que cairia por terra o mito de existirem amplas regiões do Universo muito tranquilas, onde os equilíbrios entre os respetivos sistemas estelares  se afiguravam estáveis. Ora as novas ferramentas de Astronomia assinalaram inaudita atividade em todas as direções para as quais os cientistas virassem os telescópios. Ademais surpreendiam-se com a percentagem significativa de sistemas binários com duas estrelas a rodarem em torno uma da outra, Foram essas conclusões a  propiciarem a transição da fase de formulação teórica da existência dos buracos negros para a sua comprovação através de provas científicas.

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