segunda-feira, outubro 28, 2019

Diário das Imagens em Movimento: «Perfume e Violência» de Paul Wendkos (1957)


Este terá sido um dos melhores exemplos de como Jayne Mansfield era bem mais do que a loira burra de muitos títulos dos anos seguintes, convertendo-a numa lamentável caricatura de si mesma. Demonstra, igualmente, o quanto Paul Wendkos terá sido desaproveitado no cinema norte-americano, depressa empurrado para a televisão, onde assinou episódios em séries irrelevantes. Aqui, com este «The Burglar», a sua primeira longa-metragem, que ele próprio montou, deteta-se o quanto aprendeu com as obras do mestre Hitchcock e, sobretudo, com as de Orson Welles, criando um dos melhores filmes negros dos anos 50.
O argumento é de David Goodis, que adaptou o próprio romance, nele contendo muitos dos elementos, que fundamentam os cânones do género: começa por haver o roubo de um valioso colar, mas os quatro envolvidos no golpe logo começam a alimentar as tensões entre si. Não só porque Gladden (Jayne Mansfield) suscita o assédio alarve de um dos cúmplices, mas sobretudo por divergirem entre si quanto à forma de se libertarem da peça de joalharia: uns querem-na vender mais rapidamente a um intermediário, mesmo recebendo metade do que vale, enquanto Nat (Dan Duryea) pretende deixar a poeira assentar e, quando a situação se mostrar mais calma, negocia-la pelo valor mais elevado que conseguirem.
Surge então o outro elemento comum a muitos filmes do género: o polícia corrupto, que pretende ficar com o produto do roubo para si. Para tal seduz Gladden, quando ela é enviada para o recato de Atlantic City, e incumbe uma comparsa de fazer o mesmo com Nat.
Tudo tende e complicar-se quando este descobre esse plano e decide acorrer para junto da rapariga que, anos antes, se comprometera a proteger, quando ela era ainda uma criança, mas se tornara entretanto numa mulher carecida de afetos. Pelo caminho são travados por uma operação de stop da polícia e identificados, matando um dos agentes, mas também morrendo um dos membros da quadrilha.
Os acontecimentos aceleram-se a partir daí e, lembrando a cena da barraca dos espelhos no weelesiano «A Dama de Xangai», o desenlace recorre a uma barraca de horrores e conclui-se numa bancada circense.
Como seria expectável nos filmes desta época os delinquentes, incluindo o polícia corrupto, morrem ou são desmascarados. Mas a forma como Wendkos explora a intriga evidencia o quanto prometia muito mais do que aos donos dos estúdios lhe permitiram fazer.

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