sábado, outubro 19, 2019

Diário de Leituras: A forma de habitar o mundo


Inicio agora um novo romance de Jean-Paul Dubois intitulado «Tous les hommes n’habitent pas le monde de la même façon». Acabado de publicar ele adota a estrutura mais comum a muita da ficção francesa contemporânea: de início sabemos que o protagonista - invariavelmente na pele do narrador - está numa situação complicada, seguindo-se a descrição das circunstâncias, que o terão conduzido a tão complicado transe.
No caso de Paul Hansen ficamos a saber que está a cumprir dois anos de prisão na Penitenciária de Montréal por ele descrita como “universo fechado feito de sofrimento enjaulado”. O companheiro de cela é um avantajado motoqueiro, que aguarda julgamento por, com a ajuda de outros Hell’s Angels, ter assassinado um dos membros do grupo de quem se ficara a suspeitar a colaboração com a polícia.
Depressa ficamos a saber que os três seres que mais contavam para Paul - a mulher, o pai e a cadela de estimação - já morreram entretanto, embora desconheçamos se esse facto teve algum relacionamento com a condenação a que foi sujeito. E, igualmente, se esclarece a pouca vontade dele voltar para o exterior por ali não ter ninguém à sua espera. A entrevista com o responsável capaz de lhe assegurar o abreviamento da pena por bom comportamento a nada conduz por Paul escusar-se a adotar a atitude de arrependimento dele esperada.
Como constitui o cânone deste tipo de romance só lá para o final ficaremos a saber o que levou o homem que estivera vinte seis anos como superintendente de um edifício com sessenta e oito frações a incorrer num crime - por certo de gravidade pouco significativa - mas que o fez mudar de residência no preciso dia em que Barack Obama se tornou presidente. Até lá conheceremos a história do narrador desde que era pequenino. E, neste caso, começa-se até com o nascimento em Toulouse, em 1955, como fruto dos amores de um jovem pastor protestante vindo da Dinamarca com uma cinéfila ainda mais nova, que dele se deixara embeiçar, não porque acreditasse nas tretas religiosas, mas por o considerar muito bonito.
Sem surpresas, mas suficientemente bem escrito e estruturado para manter o entusiasmo na leitura, assim prosseguirei na descoberta deste romance.

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