quinta-feira, outubro 10, 2019

Diário de Leituras: Mais uma desfeita para o invejoso-mor da República


Nem a ajuda da Gulbenkian, ao organizar-lhe uma esdrúxula conferência, nem o elogio de um pseudointelectual francês apostado em promove-lo a píncaros que não são os seus, nem sequer a iniciativa de Marcelo ao condecora-lo com a Ordem da Liberdade por supostos feitos a que nunca esteve associado, bastaram ao invejoso-mor da República para ver-se reconhecido com o Nobel da Literatura. Uma vez mais terá de carpir as mágoas ciente de como depressa os seus romances cairão no esquecimento tão-só conheça fátuos elogios a propósito do inevitável passamento. Mas, quando alguém morre, não é de bom tom emitir-lhe elogios, mesmo que imerecidos?

Se grandes escritores do século passado quase não são lembrados - e basta aqui recordar Ferreira de Castro, Aquilino, Alves Redol, Fernando Namora ou José Cardoso Pires para só citar alguns! - o que poderá esperar Lobo Antunes, quando passar definitivamente de moda a sua escrita narcísica e particularmente elucidativa se interpretada pelas chaves propostas por Freud e seus discípulos?
Os grandes escritores do século XX português continuarão a ser Fernando Pessoa e José Saramago, ambos pelo incontestado talento e o segundo no merecimento estabelecido pela Academia Sueca.
Se voltarmos duas semanas atrás, aquando do gesto desesperado de Marcelo para lembrar ao júri a existência deste luso autor que já se pôs tanta vez em bicos dos pés para ganhar a distinção, o discurso dele enquanto medalhado foi constrangedor para quem teve o incómodo de o ouvir.
Miguel Sousa Tavares, que deu conta do evento numa das suas crónicas e se insurgiu contra tal honra , escreveu: “É bem feito para Marcelo que Lobo Antunes, ao agradecer a “surpresa”, tenha feito um discurso em que, sem surpresa alguma, jamais entrou a palavra liberdade ou uma palavra de homenagem aos que por ela se bateram. Apenas, e como sempre, um discurso onde o único tema foi ele próprio, as “namoradas e namoradas e namoradas” que tinha com o seu sucesso literário e a crítica que, ao contrário dos seus milhares de leitores, não gostava dele porque “era bonito e tinha olhos azuis” (uma inverdade histórica: a crítica sempre o levou ao colo, até hoje; os leitores é que se cansaram dos olhos azuis). Eis como se banaliza a liberdade.”
Quanto aos dois contemplados deste ano fico cheio de curiosidade em conhecer a prosa de Olga Tokarczuk, até por ma elogiarem como de escrita absorvente e de perfil cívico bastante ativo contra o governo ultraconservador do seu país. Quanto a Peter Handke li-o bastante, à medida do prazer suscitado por muitos livros dele conservados na biblioteca cá de casa e considero uma canalhice a qualificação de «extrema-direita» dele dada por José Mário Silva, crítico do «Expresso», porquanto nem ele alguma vez manifestou qualquer predileção por essa gente (pelo contrário!), nem tão pouco Slobodan Milosevic, que ele apoiou quando fez os possíveis por manter a unidade da antiga Jugoslávia, poderia associar-se a tal designação, porquanto viu-se, sim, vitimado por uma vergonhosa agressão imperialista.
Nesse sentido entenda-se que os Nobéis da Literatura deste ano estão muito bem entregues!

Sem comentários: