quarta-feira, outubro 02, 2019

Apontamentos nas margens das notícias: Que elas existem, existem! (as alterações climáticas, claro!)


A contraofensiva dos negacionistas das alterações climáticas volta a fazer-se sentir: passando os olhos pelos títulos desta manhã dou com um «climatólogo» a insistir na recusa da influência humana nas circunstâncias que, por exemplo, acabam de possibilitar a chegada de um furacão ao grupo ocidental do arquipélago açoriano. Ou uma outra, que sugere a necessidade de silenciar a hipótese de um apocalipse climático, porque existe um número crescente de crianças importunadas pela ansiedade quanto a tal assunto. Ou persiste a campanha contra a adolescente sueca, que se tem destacado na denúncia do perigo, surgindo como protagonista nacional de tal campanha o amigo de Marcelo, que teve a duvidosa honra de discursar nas últimas comemorações do dia de Camões.
Não é preciso ser fanático da ecologia para ser evidente a importância em alterarmos a forma de consumirmos bens em excesso cujo usufruto acaba por ser ridiculamente raro. O ministro do Ambiente referia, dias atrás, o exemplo dos milhares de berbequins guardados nas caves e arrecadações das habitações lusas apesar de estudos indicarem que, durante o seu tempo de vida, só serão utilizados durante doze minutos. Ou fazem todo o sentido as campanhas destinadas a tornar menos frequente o consumo de carne, particularmente a bovina, tendo em conta os efeitos nocivos das criações de gado no efeito de estufa e na desflorestação amazónica.
A ameaça que assustou os Açores por estes dias vai-se repetindo noutras regiões do planeta  e sob formas diversas: o glaciar no Vale d’Aosta, que ameaça colapsar a qualquer instante ou a seca na Austrália, que provocou uma surpreendente chuva de morcegos mortos sobre os turistas da sua Golden Coast. Não há mês do ano em que faltem notícias sobre tragédias relacionadas com os destemperos climáticos ou catástrofes anunciadas. E, nestas últimas, avulta a que o Relatório do Painel Governamental para as Alterações Climáticas agora produziu, fazendo prever para 2100 uma elevada subida do nível dos mares, a acidificação dos oceanos, a redução do oxigénio e o aumento das temperaturas.
Bem podem alguns pedagogos insurgirem-se com a inquietação dos petizes por notícias tão assombrosas, que serão eles a terem de exigir a mudança dos principais paradigmas por que nos regemos. Mormente os derivados de um sistema económico que nos anda a matar aos poucos antes de nos aniquilar se, antes, não for ele próprio extinto.

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