Considerava-se um francófono do Leste Europeu. Um humanista. Um racionalista com espírito religioso. Um católico com cérebro judeu. Um verdadeiro revolucionário.
Os seus romances tornaram-se clássicos da Literatura: Joseph Roth foi um prosador de talento e, no seu tempo, não havia quem se lhe equiparasse enquanto jornalista na República de Weimar. E foi nessa qualidade que, cheio de entusiasmo, foi viver durante alguns meses na União Soviética, de lá enviando sucessivas reportagens para o «Frankfurter Zeitung», que expressaram o seu sentimento: a Revolução extinguira-se, dando lugar a ruínas flamejantes com muitos bombeiros à volta.
Se até então tudo o conotara com as esquerdas, penderá progressivamente para as direitas, acabando por morrer conservador, monárquico e etilicamente descoroçoado com tudo. Paradoxalmente, ou talvez não, as suas obras maiores aconteceram quando estava nesse limbo entre as ilusões perdidas e as «certezas», que nunca chegaria verdadeiramente a abraçar.
Anos antes, o mesmo jornal já o enviara a Leste, à Galícia da sua infância, outrora parte integrante do defunto Império Austro-Húngaro.
Ele nascera em Brody, em setembro de 1894, em território hoje reconhecido como ucraniano. O pai era negociante em cereais. Mas, um ano e meio depois de se casar, partiu para uma viagem de negócios e nunca mais voltou. O filho nunca o conheceria.
O futuro escritor cresceu numa cidade de província em que os comerciantes eram judeus e os funcionários orgulhavam-se da sua identidade polaca. Quase toda a população falava várias línguas: o iídiche, o alemão, o russo. Sem ter um ambiente cosmopolita, Brody era um entreposto comercial e judiciário.
Entre 1905 e 1913 Roth estudou no liceu local e, obtido o bacharelato, deixou a cidade. No entretanto distinguiu-se como aluno brilhante e com um gosto assumido pela autenticidade.
Como escritor ele integrará o movimento da Nova Objetividade e enquanto jornalista pretenderá fazer de cada reportagem uma obra de arte.
Em muitas das obras futuras ele citará frequentemente o Hotel Bristol, um dos edifícios emblemáticos da cidade, mandado construir por um dos mais proeminentes judeus de Brody no início do século XX. Situado na que era conhecida como a Rua Dourada, concentrava-se-ali o comércio de joias da comunidade judaica. E nela, incluindo o hotel, passa-se relevante parte de «A Marcha de Radetzki», porventura o mais conhecido romance do autor.
Fino observador, discreto e silencioso, Roth retirou muita matéria das quotidianas passagens pelo local para a integrar na sua ficção posterior. Falando um alemão com sotaque austríaco, Roth cuidava das palavras com alma de poeta como se elas acariciassem quem as ouvia, quando as proferia.
Quando descreve Brody lembra-a situada na ampla planície, com escassas elevações de terreno donde, apenas nos dias mais límpidos, se distinguem as longínquas montanhas a leste. A geometria da cidade é por ele descrita como tendo duas avenidas principais, uma rompendo-a de norte a sul, outra de leste a oeste, encontrando-se numa praça central aonde se situava o Mercado. Na gare ferroviária apenas passava e parava um comboio por dia.
O jovem Joseph ainda assistiu à profunda mudança criada na Rua Dourada a partir de 1910, quando os edifícios foram sendo substituídos por outros mais conformes com o estilo da Secessão Vienense. Essa transformação impressioná-lo-ia o bastante para se repercutir na forma de olhar as que depois constataria por onde passaria.
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