Não sei se chegará aos ecrãs nacionais o excelente terceiro filme realizado por Paul Newman, agora recuperado para os lançamentos da semana em França.
Vi «A Influência dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas» num cinema da zona da Almirante Reis, pouco antes do 25 de abril, e muito então me impressionou, por me demonstrar que, além de talentoso ator, Paul Newman tinha idêntica qualidade na realização de filmes. Em vez de se dedicar a grandes projetos, à medida das grandes produções em que fez nome como um dos mais conhecidos vultos de Hollywood, Newman optou por pequenas produções de grande sensibilidade.
Em 1968 rodou «Raquel, Raquel» para dar a exata medida de Joanne Woodward como uma atriz, que quase nenhum outro realizador soube utilizar na maximização dos seus recursos dramáticos. Depois de «Sometimes, a Great Nation», de 1970, que desprezaria como obra falhada, Newman avançou para este «The Effect of Gamma Rays on Man-in-the-Moon Marigolds» em 1972.
Filme de uma beleza inesquecível, baseado num texto de Paul Zindel, tinha três desempenhos espantosos por parte das protagonistas, uma das quais a mesma Joanne Woodward, com quem Newman teve longo casamento, e que ganhou o prémio da interpretação feminina em Cannes ao interpretar esta Beatrice Hunsdorfer, mãe de duas adolescentes.
Ao contrário de Gena Rowlands nos filmes de John Cassavetes, Joanne Woodward nunca perdia as estribeiras, ostentando inabalável contenção, mesmo nas situações emotivas mais extremas.
Entre a amargura de se ter visto abandonada por um marido acabado de falecer e a mediocridade de um quotidiano marcado pela exiguidade dos recursos, ela via-se obrigada a albergar uma velha senhora, ela própria posta à margem pela respetiva família.
Entre Beatrice e as filhas as relações nem sempre se revelam fáceis: Rute tem o comportamento irreverente e exuberante dos 17 anos, eivados do desejo de se afirmar. Matilda, por outro lado, é uma rapariga de 13 anos, taciturna e complexada para quem será determinante a empatia com um professor de biologia.
O que melhor define o filme são os diálogos verosímeis no humanismo e beleza formal. Nos cem minutos de duração, Newman dá-se ao prazer de realçar o pequeno detalhe, mormente quando se trata da expressão dos rostos das personagens.
Fica memorável o sofrimento de Béatrice, quando se descobre caricaturada pela filha na escola ou o olhar parado da hóspede, resignada à sua triste sorte.
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