Muitas das guerras vindouras terão por causa a falta de água para o fornecimento de energia nas barragens ou para as culturas agrícolas necessárias à alimentação das populações.
A História ensina-nos que, nos anos anteriores à Revolução Francesa, uma seca terrível reduziu drasticamente a produção dos campos franceses, e a queda da monarquia mais não foi do que o seu lógico corolário.
Sabemos, igualmente, que a intenção de Israel em manter a posse ou o controle dos territórios ocupados desde 1967 tem por objetivo o acesso aos aquíferos imprescindíveis ao sucesso da sua agricultura.
As próprias revoltas no Magreb nos últimos anos, e que resultaram na queda de Moubarak, Ben Ali ou Khadafi também tiveram na falta de água uma boa parte do seu combustível.
O documentário do alemão Arno Trümper sobre a forte probabilidade de surgirem guerras na Ásia Central, provocadas pela seca prolongada nalgumas das suas vastas regiões, alerta para uma situação explosiva, que tanto pode ficar ali circunscrita como extravasar para o resto da Eurásia. Não esqueçamos que o provável terrorista do atentado desta semana em São Petersburgo veio de um destes novos países, resultantes da implosão da antiga União Soviética.
Os crimes ecológicos cometidos nestas vastas estepes tiveram ainda origem na época em que Estaline mandava em Moscovo: o mar Aral é o trágico exemplo de como o homem pode precipitar a destruição de toda uma florescente paisagem ao julgar-se mandatado para dela explorar os recursos existentes numa exclusiva lógica economicista.
A cidade de Aralsk que o documentário começa por visitar, transformou-se numa cidade fantasma onde só restam vestígios escassos do tempo em que existia ali uma sólida indústria pesqueira e naval. O que resta do desaparecido lago de água salgada de há setenta anos fica a 50 quilómetros de distância, depois de atravessado um deserto onde nada poderá voltar a crescer, tão contaminado está o solo com os produtos químicos usados intensivamente nas entretanto falidas explorações de algodão.
Nesta altura existe uma guerra ainda não declarada, mas iminente entre o Tadjiquistão, que quer utilizar os recursos hídricos provenientes dos glaciares dos montes Pamir para alimentar uma barragem hidroelétrica capaz de lhe garantir autonomia energética, e o Uzbequistão que, a montante, carece dessa mesma água para a sua agricultura.
Ambos tutelados por ditadores, que passaram lestamente da antiga burocracia comunista para o exercício autoritário, mas desideologizado do exercício do poder, é a própria lógica nacionalista a justificar que se faça do outro o inimigo de estimação como forma de contenção do descontentamento intramuros.
A batalha pela água na Ásia Central está a servir de pretexto para que regimes impopulares se procurem perenizar...
Sem comentários:
Enviar um comentário