Devo a Rui Simões muitas horas de prazer cinéfilo dedicadas ao conhecimento do excelente trabalho de tratamento de arquivos, que nos possibilitou um conhecimento ilustrativo do que foi o fascismo e os primeiros tempos da Revolução de Abril. «Deus, Pátria, Autoridade» ou «Bom Povo Português» são títulos imprescindíveis sempre que estiver em causa um qualquer ciclo dedicado ao documentarismo luso sobre a História do Século XX. O primeiro abordando o período compreendido entre a implantação da República e o 25 de abril, o segundo indo desta última data até ao 25 de novembro de 1975.
Infelizmente nunca foi realizador a quem fossem propiciadas grandes condições para ter a vasta filmografia, que o talento justificaria. Mais recentemente conhece-se-lhe um filme estreado em 2010 sobre a comunidade cabo-verdiana do bairro da Cova da Moura, e outro sobre a condição de carne para canhão a que foram sujeitos mais de cem mil jovens nas guerras das ex-colónias entre 1961 e 1974.
Pelo meio devo-lhe ainda mais: o único documento filmado que me resta de uma das mais exaltantes peças de teatro, que vi na minha vida: «Ensaio sobre a Cegueira» na encenação de João Brites para o grupo de teatro O Bando. «Ensaio sobre o Teatro» é um dos melhores making off que vi por dar a conhecer o processo criativo, que resultou num espetáculo inesquecível.
Sabemo-lo agora de regresso a São Pedro da Cova, onde, em 1974 e 1975, andara a filmar as experiências de organização popular promovidas por alguns dos mais ativos representantes dos mineiros, que tinham ficado desempregados cinco anos antes por fecho inopinado das minas de carvão.
O filme agora anunciado - «Do Carvão aos Resíduos» - não só pretende fixar a memória dos sobreviventes do período em que toda a aldeia funcionava em torno da atividade mineira, mas também denunciar as consequências de uma exploração, que não acautelou o desastre ambiental, que dela ainda é testemunho.
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