Algures na Picardia o patrão de uma grande empresa já não consegue iludir os empregados por mais tempo. O rumor do fecho da fábrica torna-se impossível de travar. Para compensar as empregadas oferece-lhes blusas com o nome bordado mas, no dia seguinte, todas as máquinas desapareceram e a empresa parece nem sequer ter ali existido.
Louise, a operária analfabeta nada complacente com os que lhe lembram a incapacidade em saber ler, propõe às companheiras de infortúnio, que apliquem o valor da irrisória indemnização - 100 euros por cada ano de trabalho - no pagamento a um assassino a soldo, que se encarregue de matar o patrão. O escolhido será Michel, um medíocre fora-da-lei, sem envergadura para a tarefa de que o incumbem…
O título «Louise-Michel» não é fruto do acaso, buscando-se a homonímia com a célebre anarquista das lutas da Comuna de Paris. Mas temos, sobretudo, a formação de um casal improvável até na questão da identidade sexual.
Com a verve e o humor negro, que já surgiam nos dois filmes anteriores («Aaltra» e «Avida») e nos sketches inventados para um programa do Canal Plus («Groland»), a dupla de realizadores cria uma feroz vingança dos proletários contra os seus exploradores. Apesar de lhes atribuírem uma inconcebível falta de jeito será deles a vitória contra o capitalismo?
O fio narrativo é respeitado, mas vão surgindo de permeio algumas piadas, ora hilariantes, ora capazes de chocarem os mais sensíveis. Como é o caso de se contratarem doentes terminais para servirem de carne para canhão dos intentos criminais, a caça e degustação de um coelho cru ou uma divertida noitada musical num bar de Bruxelas.
Num ano em que o Teatro da Gandaia pondera apresentar uma peça precursora do movimento dadaísta, este filme de Delépine e Kervern é um bom exemplo do que esse mesmo tipo de proposta criativa pode ainda influenciar os criativos, um século depois de ter conhecido a época áurea. Nomeadamente quando se alcança o topo da zombaria quando as mulheres se travestem em homens e vice-versa para iludirem quem são. E essa é uma das mensagens mais subtis do filme: a negação das identidades como demonstração eloquente da alienação moderna.
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