Todos os anos os estúdios norte-americanos invadem-nos com dezenas, senão mesmo centenas de filmes medianos, se não mesmo muito maus, que vêm servir de pretexto para o consumo de pipocas e de coca-colas nas salas de cinema, passando depois para as televisões por cabo em cujos horários aleatórios justificam a existência, quanto mais não seja para o preenchimento dos horários de emissão.
Este «The Girl in the Park» é um desses exemplos: apesar de ter Sigourney Weaver e Kate Bosworth nos papéis principais, limita-se a tratar, melodramaticamente, a perturbação de uma mulher de meia-idade a quem, dezasseis anos antes, tinham raptado a filha ainda bebé, quando a levara a brincar num parque infantil.
Nesse hiato a carreira profissional transferira-a para Toronto, que lhe permitira algum distanciamento emocional, mas agora, de regresso a Nova Iorque, todos esses acontecimentos voltaram a aflorar-lhe dolorosamente à consciência. Daí que acolha no apartamento uma jovem prostituta, que livrara de apuros em encontro casual numa loja donde ela acabara de roubar uns óculos. E começa a dedicar-lhe o afeto, que ficara por transmitir à desaparecida, mesmo que isso signifique o sofrimento do outro filho, Chris, que está prestes a ser pai e fora por ela abandonado nesses últimos anos.
Habilidosamente o realizador, David Auburn, começa a criar no espectador a dúvida: será que estaremos perante um daqueles mais do que improváveis casos de coincidências estapafúrdias, e Louise é mesmo a miúda cujo rasto se perdera? É que o irmão adotivo com quem partilhara família de acolhimento trata-a por Maggie, o nome efetivo da filha de Julia Sandburg…
É essa ambiguidade, que se cria até ao epílogo, onde se dá a escolher a hipótese mais conveniente para quem dedicou duas horas a este entretenimento sem pretensões a obra-prima.
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