Uma das piadas que se conta em Washington sobre o antigo presidente Gerald Ford era não conseguir movimentar-se e falar com um interlocutor, porque a inteligência não lhe chegava para coordenar duas ações em simultâneo: ou andava, ou falava, as duas é que não.
Nesse sentido podemos considerar que os polvos são bem mais inteligentes do que o referido antecessor de Trump na Casa Branca: quando o capturam no mar, pode estar a apanhar um caranguejo com dois tentáculos e utilizar os outros para afastar o súbito agressor. Se os humanos têm dificuldade em coordenar os dois braços, o que seria com oito?
Descendentes de um caracol do Câmbrico, existem polvos há 540 milhões de anos. Sem esqueleto, desafiaram as extinções de outros seus contemporâneos, perdendo a casca, desenvolvendo os tentáculos, tendo três corações e criando um sistema nervoso como não se conhece mais nenhum. Nele só um terço dos 500 milhões de neurónios está dedicado ao funcionamento do cérebro central. Os outros dois terços alimentam um sistema nervoso periférico, que estende-se até à ponta dos seus oito tentáculos. Estes são autónomos uns dos outros, dispondo da sua própria estrutura motriz e de recetores sensoriais que, mesmo quando cortados, servem para reagir ao que se passa à volta durante cerca de uma hora.
Esse sistema nervoso periférico faz uma triagem prévia dos estímulos, não exigindo a necessidade de um cérebro maior, e dispensando-o da exploração permanente do habitat. Ele pode, assim, dedicar-se a outras atividades. A quê ninguém o adivinha. Talvez a refletir sobre o sentido da vida ou a outras questões filosóficas de não menor importância.
Nos cães os cientistas vêm estudando a singularidade das relações com os donos: sem qualquer compensação alimentar, o odor de um ser humano conhecido ativa neles sistemas cerebrais de recompensa, que ficam inativos se não lhe é familiar.
Existe neles um centro de motivação ligada à região auditiva, que lhes permite diferenciar estímulos positivos e negativos.
Reagem então de forma extremamente sensível em relação ao comportamento dos donos emitindo sinais comportamentais destinados a acalmarem-nos se os sentem zangados ou mostram-se esfuziantes se os supõem alegres. Se pressentem medo, também por tal emoção se contagiam.
O que leva os cientistas a concluir que são muito mais atentos ao que os donos fazem do que estes podem imaginar.
Passando para os golfinhos, se os fixarmos nos olhos a adivinhar o que lhes vai na mente, é provável que eles façam exatamente o mesmo: existe neles imediata empatia.
Conseguiram-se detetar no seu cérebro zonas desenvolvidas dedicadas às emoções e à cognição social por disporem de uma espécie de lóbulo suplementar ao sistema límbico e ao neocortex. Esse lóbulo é ínfimo nos seres humanos e inexistente nos demais mamíferos. Tratam, por isso, as emoções com uma sofisticação, uma subtileza, de que não somos provavelmente capazes.
Explica-se assim o altruísmo, que os leva a entreajudarem-se, a não abandonarem um companheiro em apuros, mesmo pondo em perigo a própria vida. E até são capazes de revelarem disponibilidade para ajudar um ser humano ou animais de outras espécies.
Reconhecido pelas competências cognitivas superiores - a consciência da sua identidade, a capacidade de interpretar informações simbólicas - sabe-se que o golfinho é dotado do talento de reconhecer estados emocionais dos exemplares da sua espécie só pela observação do ritmo cardíaco ou da respiração. É-lhes, igualmente, atribuída a capacidade para identificar doenças internas, mormente tumores.
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