Quem era Jackie Kennedy? Vimo-la tão exposta em revistas cor-de-rosa, que mal nos apercebemos do quanto lhe desconhecemos a verdadeira personalidade. Por isso o filme do chileno Pablo Larrain tem mais interesse do que poderíamos preconceber, tanto mais que aplica ao cinema o principio da metonímia: toma um momento da vida da biografada como essencial para nele se encontrarem todos os elementos necessários à sua compreensão na totalidade.
Esse momento é o ocorrido em novembro de 1963, logo após o assassinato do marido em Dallas, quando recebe um jornalista interessado em recolher-lhe o testemunho. A tensão é imediata, porque ele faz-se paladino da liberdade de imprensa e do seu reivindicado controle em tudo que assina, enquanto ela lhe exige a leitura prévia do texto antes da publicação.
A partir dessa cena começam os flash backs sobre a chegada à Casa Branca e tudo quanto aí lhe sucedera até se ver determinada a organizar as exéquias fúnebres do marido de forma a assegurar-lhe a pretendida dimensão política.
Ela não deixará de exprimir dúvidas sobre o que será o futuro, cujas complicações se adivinham nos inesperados obstáculos, particularmente assumidos pelo cunhado Bob, quando o que estava em causa era a organização de um funeral de Estado.
Ao acabar a entrevista o jornalista rende-se-lhe: o artigo sairá publicado de acordo com os termos por ela estabelecidos. Fica assim demonstrada a sua capacidade para impor a versão da História, que mais lhe conviria.
O filme de Larrain acaba por ter por tema o da manipulação da verdade, raras vezes coincidente com o efetivamente ocorrido.
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