terça-feira, setembro 01, 2020

(DL) Sófocles, o melhor representante do século em que viveu


Sófocles personifica Atenas, quando a cidade-estado conheceu o seu fulgor civilizacional no século de Péricles: nascendo em 497 a.C. e morrendo noventa e um anos depois, pôde-lhe testemunhar a ascensão dos valores democráticos e o seu definhamento, quando as guerras do Peloponeso saldaram-se pela vitória de Esparta. Político ativo, que participava ativamente nos debates da Ágora, Sófocles produziria um teatro patriótico destinado a suscitar nos compatriotas o orgulho pela República e a necessidade de a preservar.

É verdade que a Democracia, tal qual Sófocles ajudou a consolidar, era demasiado exclusiva, nela não cabendo os metecos nem os escravos, mas ficou imortalizada como o primeiro sistema de governo assente no primado da vontade coletiva dos cidadãos. Esse foi também tempo farto para a Filosofia, entendida como instrumento fundamental para a compreensão do mundo e dos homens, cujas contradições eram representadas nos seus concorridos teatros. Através das suas tragédias surge um novo tipo de homem, aquele que se via dotado de uma consciência relativamente a tudo quanto praticava.
Edipo é, a esse respeito, um personagem paradigmático, criado a partir das muitas visitas que o autor da peça fez ao templo de Delfos para escutar os vaticínios das pitonisas. Teria sido aí que o oráculo anunciara a Laios qual seria o destino do filho acabado de nascer: viria a matá-lo e casaria com a própria mãe. Ele viria a ser o tipo de herói maldito, que procura fugir ao que o futuro lhe reserva e não consegue. Quando compreende tudo quanto fizera só pode punir-se, mesmo sabendo tratar-se de desiderato incapaz de corrigir o mal de que fora involuntário instrumento.
Uma história idealizada há dois milénios e meio acabou por ter ressonância até aos nossos dias, não só na forma das discussões sobre o papel do determinismo nos destinos humanos, mas também no que se oculta no seu inconsciente.

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