Salvo raras exceções - Adeus Lenine ou A Queda - o cinema alemão vai passando quase imperfetivelmente pelos nossos cinemas sem suscitar o entusiasmo e o acolhimento público, que mereceria. E este filme, que se estreou entre nós em 2015, é disso um claro exemplo, apesar de extremamente bem feito e abordar um tema capaz de suscitar o interesse de quantos se interessam pelo nazismo e a ulterior punição dos seus principais cabecilhas.
Baseado no Processo de Frankfurt, O Labirinto das Mentiras aborda as dificuldades por que passa um jovem procurador apostado em julgar os responsáveis pelo campo de Auschwitz tendo em conta que, quase todos à sua volta, o instam a deixar as coisas tal qual estão!
De início tem uma testemunha que reconheceu no professor de um escola um dos seus carcereiros, quando estava aprisionado no sinistro campo de concentração. E faz-se acompanhar na queixa judicial por um jornalista, Thomas Gnielka, que informa Johann Radmann do avassalador trabalho que o espera se contrariar os colegas, decididos a manter incólume a lei do silêncio sobre o que acontecera nesse passado ainda recente.
Vale a Radmann o procurador Fritz Bauer, que lhe dá cobertura para levar por diante o maior processo penal da história da República Federal Alemã. Iniciado em 1963 e concluído vinte meses depois após se ouvirem os testemunhos de 211 sobreviventes, esse julgamento saldou-se pela condenação de 19 membros da SS, entre os quais Robert Mulka, que fora adjunto do comandante do campo, entretanto falecido.
Conseguindo manter um ritmo narrativo envolvente, Ricciarelli mostra como uma sociedade pode criar conivências labirínticas, quando quer-se eximir às responsabilidades dos monstros delas emergidos. Mesmo quando os autores dessa criminosa intenção têm a aparência banal de «cidadãos exemplares».
(o filme passa amanhã à noite no canal franco-alemão ARTE)
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