domingo, setembro 06, 2020

(DIM) Salmão? Não, obrigado!


A ilusão durou uns anos: quando as postas alaranjadas do salmão nos chegavam ao prato julgávamo-las oriundas do alto mar, aonde pescadores afoitos capturavam cardumes antes de eles se fazerem à desova rios acima. Depois tornou-se moda o termo aquicultura e até achámos judiciosa a ideia de se assegurarem proteínas em quintas plantadas nas zonas costeiras como as que se multiplicavam na costa norueguesa na época em que por ali passavámos os verões há cerca de trinta anos.
Pouco a pouco as notícias sobre o que acontecia em tais quintas ganharam a dimensão de rumores cada vez mais audíveis. Singularmente o governo norueguês proibiu que delas se aproximassem os estranhos a menos de cem metros salvo se acompanhados por algum responsável de tais explorações.
Sabe-se o que nisso resulta: há sempre quem se deixe tentar pela violação das proibições e tenha ido buscar imagens elucidativas sobre o conteúdo dessas zonas circunscritas. O cenário foi bem pior do que se imaginava: peixes vivos a circularem por entre os mortos, parasitas colados à pele onde se viam inúmeras cicatrizes, ou seja, o bastante para alertar as populações sobre o que estavam, efetivamente a digerir.
Obviamente que o governo de Oslo ficou furibundo com as revelações, tanto mais que as exportações de salmão são parte significativa das trocas comerciais do pais com o exterior e as suas empresas já estavam a expandir-se para a costa chilena.
Ademais se os salmões eram inicialmente alimentados com farinha de peixe, depressa se mudou a sua alimentação para soja, que a Noruega importa abundantemente do Brasil, o que explica os incêndios da floresta amazónica a fim de satisfazer uma procura crescente dessa tão requisitada planta. O problema é que a carne dos salmões perdeu a cor característica, depois recuperada com um composto químico misturado na água em que vegetam.
Tudo isto está explicitado num documentário alemão de Albert Knechtel - Salmão? Um bom filão? -, uma longa-metragem de visão obrigatória para todos quantos se interessam pelo que comem e com os problemas ambientais do planeta. E que demonstra a pertinência de um conjunto interessante de indicadores:
 - a Noruega e o Chile representam 75% do mercado mundial da produção do salmão atlântico, constituindo o segundo setor económico mais importante dos dois países, logo depois do petróleo no caso do primeiro, e do cobre no do segundo.
 - um terço da ração distribuída aos peixes é soja, pelo que o tão propalado ómega 3, benéfico para a alimentação de quem os consome, deixou de ter significado.
 - cinquenta milhões de salmões morreram de doenças nas quintas norueguesas e chilenas nos últimos dez anos, quase sempre por efeito de um parasita particularmente frequente, quando há sobrepopulação dos peixes nos respetivos reservatórios.
 - No Chile verificaram-se números significativos de acidentes de trabalho nessas explorações com cinquenta trabalhadores mortos nos últimos sete anos, sobretudo mergulhadores incumbidos de repararem as redes e impedirem os peixes de escaparem para o mar alto.
 - A Noruega planeia pentamultiplicar a produção de salmões até 2050, objetivo que as suas empresas no Chile também intentarão alcançar.
Após hora e meia de revisão da matéria dada fica a reconfirmação do que já decidíramos anteriormente: salmão, não obrigado!

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