terça-feira, setembro 22, 2020

(DIM) Mais um grande ator que desaparece

 


Nesta segunda-feira o cinema francês perdeu mais um dos seus atores de referência, Michel Lonsdale, mesmo que quase sempre o tenhamos visto em papéis secundários, ainda que sob a direção de grandes realizadores e encenadores. De Truffaut a Eustache, de Rivette ao nosso Manoel de Oliveira, quase não houve quem se dispensasse de recorrer a quem personificava na perfeição aquilo que Claude  Régy definia como imprescindível para interpretar um personagem: “os atores que falam sem darem expressão ao silêncio, limitam-se a fazer barulho, tornando-se inaudíveis. Importa encontrar forma de, ao mesmo tempo, ouvir-se o som da palavra e o silêncio que ela rompe”.

Na forma como entoava as palavras, Lonsdale dava a devida importância ao silêncio, da mesma forma que os movimentos perante a câmara tinham a leveza da lentidão, que criava no espectador a estranheza de um inexplicável desconforto. E, nem mesmo quando convidado para vilão num dos filmes de 007, dissociou-se desse estilo inconfundível e voz algo desajustada do arcaboiço físico que a enunciava.

Se se podem citar dezenas de filmes onde a sua presença acrescentou algo a uma trama de que era aparente figura acessória, fica-me a evocação dele em India Song, a obra de Marguerite Duras em que era seu o papel do vice-cônsul de Lahore incapaz de se fazer amar pela mulher, Anne-Marie Stretter, interpretada por Delphine Seyrig. Numa festa animada pela maravilhosa música de Carlos d’Alessio, Lonsdale dava expressão ao desespero de um homem que nem através do grito se conseguia fazer ouvir pela mulher a quem amava sem esperança de se ver retribuído.

De uma filmografia, que se estendeu por sete décadas será essa a imagem que mais associarei a Lonsdale, agora que ele saiu definitivamente de cena...

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