Há algo que me aproxima das ideias de Steven Pinker: a necessidade de olharmos para a realidade com o copo cheio ou, pelo menos, meio-cheio. Quando ouço alguns amigos manifestarem o medo pelo que possa acontecer com um presumível conflito iraniano-americano ou com a sustentabilidade de governos de extrema-direita em países ocidentais, desconcerto-os com o meu incontornável otimismo. Em alturas particularmente cinzentas, quando Passos Coelho parecia estar para durar à frente do governo, tinha quem nas redes sociais me pedia um post com a leitura daquele instante a fim de perder a vontade de ir-se atirar ao Tejo. Afinal, confirmando o que então previa, aquele que parecia tão firme no poder já está remetido para as catacumbas da História e pouco faltará para ficar merecidamente esquecido.
É certo que Pinker manifesta preferência por Biden como candidato democrata capaz de derrotar Trump ou faz injustificável comparação entre os ódios de estimação dos populistas de extrema-direita com os da esquerda mais consequente, que diaboliza o sistema financeiro. Mas não se pode exigir demasiado a um académico imbuído da cultura dos States, que se viu convidado pela Fundação do Pingo Doce para vir cá soltar umas larachas. Não tivesse merecido atenção em alturas pretéritas pelo acerto de algumas suas posições e teria cabido imediatamente na lógica do «se vem convidado pela clique dos Soares dos Santos, é de ignorar».
Na realidade existe uma forma de distinguir a esquerda da direita, o progressismo do reacionarismo: os que se guiam pela lógica marxista não podem ser pessimistas, porque a História tem demonstrado que, mesmo com sucessões de avanços e recuos, aqueles correspondem a dois passos por diante para superarem o eventual passo dado entretanto atrás. E ter medo, não confiando na dinâmica da evolução humana, acaba por ser atitude, que só abre a oportunidade de afirmação aos que manipulam o imaginário coletivo com os seus prometidos apocalipses.
Perante a chantagem das ameaças xenófobas, racistas e homofóbicas, importa contrariá-las com novas e credíveis utopias, suscetíveis de levarem os mais desprovidos de condições dignas de uma qualidade de vida decente a acreditarem em novos amanhãs que cantem. Porque não duvido que terá de haver um inteligente e luminoso discurso de esquerda para contrapor ao soturno cenário dos que se movem de acordo com a sua agenda ideológica fascizante.
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