No século XVII o mar começou a interessar seriamente os artistas europeus, que passaram a tê-lo como motivo das suas obras. Zurbaran, em 1634, foi um dos primeiros com a «Defesa de Cadiz contra os ingleses», representando-o em segundo plano, porque pretendeu, sobretudo, homenagear o governador, o capitão do exército espanhol e os seus principais lugares-tenentes, que os haviam ajudado a rechaçar a tentativa britânica de conquistar o porto mediterrânico em 1625.
Vinte anos depois o holandês Willem van de Velde criou a «Batalha de Livorno», um dos quadros dedicados a motivos marítimos, que muito viriam a influenciar Turner quando decidiu prenunciar as estéticas abstracionistas do século seguinte ao conferir ao mar as tonalidades e reflexos, que, igualmente, seriam precursoras do movimento impressionista. Mas naquele que é um dos seus quadros mais conhecidos - «O Temerário» - há ainda outro motivo de interesse: aquele que fora um dos grandes navios de guerra envolvidos na batalha de Trafalgar é quase um fantasma quando está a ser rebocado para o estaleiro de demolição por uma embarcação a vapor diretamente ligada à Revolução Industrial. Uma época acaba para uma outra, pujante, tomar-lhe o lugar.
Outro dos meus pintores de estimação - Caspar David Friedrich - pintara «Monge à Beira-mar» entre 1808 e 1810 e, para além de cumprir o projeto estético do Romantismo, também prenunciava algo semelhante ao pretendido por Turner.
E concluamos com Courbet este périplo por pinturas com o mar como tema. Republicano e socialista assinou várias obras com ondas revoltas, que muitos interpretam como simbolizando os movimentos sociais em ascensão, como essa Comuna de Paris por ele apoiada entusiasticamente e razão para ter concluído os dias no exílio suíço. Ao mesmo tempo que o interessava a origem do mundo, Courbet ansiava vê-lo decentemente transformado em algo de mais fraterno, igualitário e justo...
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