terça-feira, julho 30, 2019

(EdH) Uma cidade no cruzamento das rotas comerciais do séc. I a.C.


Na área geográfica abarcada pela atual Jordânia, sul da Síria, noroeste da Arábia Saudita, partes de Israel e Egito, floresceu o reino dos Nabateus entre o séc. I a.C. e o séc. I. d.C. Os desertos eram inóspitos, mas Petra, a sua capital, situava-se na encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente e foi um dos principais pontos de paragem das caravanas de mercadores.
O acesso a essa mítica cidade era feito por estreito desfiladeiro, que ia dar a um pequeno vale encaixado entre as montanhas, colinas e montes de arenito, e estava ocultado de possíveis inimigos. Nenhuma cidade do mundo possuiu uma entrada como Petra, dispensando-se de muralhas defensivas, porque bastavam as prodigalizadas pela natureza.
Se a conhecemos por esse nome, os nabateus chamavam Rqm à sua cidade, porque significaria «jogos de cor» e aludiria ao rico cromatismo assumido pelo arenito, trabalhado anos a fio pela erosão das águas e dos ventos. As cores vermelha, rosa e amarela conheceram ali matizes tão variados, que difícil seria imaginar-lhes panóplia mais alargada.
Ao franquearem a entrada da cidade, os visitantes deparavam-se com templos, casas, lojas e mercados, que os sugestionavam com a diversidade dos produtos ali comercializados.
Estrabão, que a conheceu por essa altura, descreveu Petra como cidade cosmopolita, aberta aos estrangeiros, cujos credos e costumes eram respeitados. Admirou os monumentos e a frescura dos jardins bem irrigados, que constituíam verdadeiro oásis perante a aridez da região circundante. O vale comportava um engenhoso sistema de rega, que possibilitava colheitas fartas em cereais, legumes e frutas.
Muito embora esse período de esplendor correspondesse aquele em que a tutela de Roma já se sentia - Trajano acabou-lhe com as veleidades autónomas e decretou a anexação do reino em 106 d.C., integrando-o na província romana da Arábia. Para o reino dos nabateus essa decisão imperial equivaleu ao início de acelerado declínio.
O templo de al-Khazneh, com altura equivalente a um prédio de doze andares, é o mais famoso monumento de quantos ali se conhecem. A tradução do nome - tesouro do faraó - associa-o a uma lenda segundo a qual fora construído por um soberano dotado de poderes mágicos e decidido a ali esconder a sua prodigiosa fortuna. Apreciando-o com atenção, o monumento parece, de facto, ter uma origem encantada, porque, além de esculpido na rocha, os construtores adotaram uma lógica inversa à mais comum, dando-lhe forma de cima para baixo. Apesar do sincretismo da sua cultura, as influências greco-romanas são indisfarçáveis, bem como o objetivo funerário, que estava nas intenções do seu comanditário, cuja identidade se desconhece. E os especialistas no estudo desta civilização ainda se questionam como foi possível suportar o ambiente pesado, escuro, repleto de pó e apenas iluminado pelas lamparinas de azeite de quem edificou o interior do templo. Calcula-se que houve a necessidade de remover 6 mil m3 de pedras e outros materiais e calcular com rigor a dimensão das diversas câmaras para que se evitasse o risco de desmoronamento.
A exemplo de muitos outros edifícios revelados pelas prospeções arqueológicas das últimas décadas, as interrogações sobre quem ali viveu há dois milénios são muito maiores do que as certezas entretanto confirmadas.

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