A morte de Andrea Camilleri, ocorrida no passado do 17, pouca referência mereceu na imprensa apesar de, recentemente, a RTP ter andado a emitir os diversos episódios da série dedicada ao seu mais conhecido personagem, o comissário Montalbano.
A exemplo de Georges Simenon, em cuja tradição se filia, Camilleri não pode ser restringido à exclusiva inserção no género policial, porque os seus romances apenas se serviam dos códigos desse tipo de literatura para se focalizarem no essencial: existe uma população quase sempre ignorada pelas artes e cujos valores e preocupações merecem ser abordados. Por isso não surpreende que, nalguns dos casos investigados por Montalbano os criminosos não sejam penalizados, porque revelam-se compreensíveis os motivos por que chegaram ao extremo de matarem ou prejudicarem seriamente a reputação de um biltre. A luta de classes, com as suas desigualdades, estão implicitamente abordadas em quase toda a sua obra.
Em Camilleri a realidade siciliana distancia-se bastante - pelo menos no essencial! - com as máfias, por muito que Montalbano não enjeite, aqui e acolá, informar-se junto dos padrinhos locais por quem não sente a mínima simpatia. Pior é a mesquinhez dos políticos democrata cristãos, entre os quais se incluem os chefes a quem o comissário tem de reportar, sempre preocupados com as pressões recebidas dos seus próprios superiores hierárquicos sedeados em Roma.
Na salvineada Itália as denúncias de Camilleri fazem falta, porque só podemos imaginar o que ele denunciaria a respeita desta deriva fascizante a que o seu país está a ser sujeito.
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