Um crítico, que costumo ler com prazer e quase incondicional concordância - Luís Miguel Oliveira - é parco em elogios a este filme realizado por Alexander Sokurov tendo o Louvre como eixo temático. Embora lhe tenha preferido «A Arca Russa», filmado no Hermitage num único plano-sequência - considero injusta a referida depreciação de «Francofonia» por serem muitas as pontas por onde lhe possamos pegar, todas elas suscitando reflexões e leituras estimulantes. Por exemplo: que pessoas seríamos se não tivéssemos disponíveis os museus para nos estimularem os juízos do Belo ou as relações das obras artísticas com o tempo da sua criação? Como teria evoluído a arte europeia se não houvesse passado pela época em que, primeiro os monarcas e aristocratas se faziam retratar, e depois se lhes seguiriam os burgueses, os camponeses, e até, em fase mais tardia, os proletários? Quem seríamos se não nos cruzássemos, através de centenas de quadros, com o olhar dos que nos antecederam? E, aproveitando as deambulações de Marianne e do fantasma de Napoleão Bonaparte pelo museu, como considerar a dicotomia entre a arte defensora da tríade revolucionária da Fraternidade, Igualdade e Liberdade e a que contribuiu para o culto da imagem dos que se consideravam poderosos?
Uma leitura mais óbvia aborda o período da Ocupação nazi, quando o diretor do museu, Jacques Jaujard tudo fez para pôr as obras no recato de vários esconderijos, contando com a passividade, senão mesmo com a complacência do conde Metternich, que era o seu interlocutor por conta dos invasores nazis.
Mas há, igualmente, o contraponto de um outro personagem, um capitão de navio a contas com violenta tempestade, que pode deitar a perder os contentores onde se armazenam obras de arte e se justifica a pergunta: numa situação limite o que importa preservar, a vida humana ou esse espólio insubstituível?
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