Em 1995 Haruki Murakami decidiu voltar a radicar-se no seu Japão natal, depois de breves experiências no sul de Itália e nos Estados Unidos. Embora atraído pela sociedade (e cultura) ocidental, convenceu-se em definitivo qual seria o sítio em que gostaria efetivamente de viver. Sete anos depois «Kafka à beira-mar» constituiu um enorme sucesso mundial de vendas com a história da passagem de um adolescente para a condição de adulto e consolidou-se o prestígio com uma tal dimensão, que não o estranharíamos ver nobelizado um destes dias.
Como de costume nos seus romances, tudo começa em Tóquio: o jovem Kafka Tamura foge de casa para escapar à terrível profecia do pai segundo o qual protagonizaria um destino muito semelhante ao de Édipo. Takamatsu, na ilha de Shikoku, torna-se a sua escolha como local de refúgio, passando os dias na biblioteca local. É aí que conhece uma mulher mais velha por quem se enamora, mas será essa menina Saeki a desconhecida progenitora? A ser assim, porque o teria abandonado em criança?
Nessa mesma biblioteca conhece o velho Nakata, também proveniente de Tóquio, que, apesar de analfabeto, tem o dom de conseguir comunicar com os gatos, justificando-se a chegada a Takamatsu para ali prosseguir a busca obsessiva por felinos, que lhe teriam desaparecido. Os personagens de Murakami ombreiam entre si, mas, invariavelmente, nunca chegam a verdadeiramente revelarem-se.
Os acontecimentos estranhos sucedem-se desde uma chuva de sardinhas até ao encontro com uma prostituta, que cita Hegel. Kafka acaba por perceber que poderá encontrar respostas para as suas dúvidas internando-se numa floresta mágica habitada por soldados, que não envelheceram desde o final da Segunda Guerra Mundial. Quando daí regressa o rapaz deixou para trás os verdes anos e está pronto para enfrentar a condição de adulto.
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