Pode ser discutível a tese de ter sido na Holanda do final do século XVI, que o capitalismo ganhou alavancagem para vir a constituir-se como o mais eficiente sistema económico de exploração do homem pelo homem. Mas, quando, em 1596, os principais comerciantes de Amesterdão financiaram a expedição comandada por Cornelis Houtman às Índias Orientais tinham por propósito o estabelecimento de um mercado mais concorrencial de distribuição de especiarias, que potenciaria não só uma prodigiosa acumulação de capital - dando força à burguesia enquanto classe capaz de vir a contrariar a primazia aristocrática - mas, sobretudo, facilitando os fluxos monetários, que transformariam os bancos e as seguradoras dos navios nas traves mestras do ascendente sistema económico.
Não deixa de ser curioso que esse intento só foi possível, porque os portugueses haviam-se deixado conduzir para a hecatombe por um estarola armado em comandante das forças cristãs contra os infiéis. Perdida a independência, também fraquejara o quase monopólio da rota marítima para o Oriente. E gabe-se, ao mesmo tempo, a determinação dos holandeses que viram a primeira expedição apresentar pífios resultados, mas logo multiplicaram o investimento cientes do retorno potencial que estava em causa.
A beatice estúpida do seu efémero líder condenou os portugueses à irrelevância nos séculos, que se seguiram, por muito que, num breve período, se tenham iludido com o tráfico negreiro e o ouro do Brasil. Ao contrário do que pretendem os prosélitos de uma ideia grandiosa da história lusa, ela só é rica em gente medíocre e mesquinha, que atanaza a visão grandiosa dos que, geração após geração, aspiram rumos diferentes. No fundo o presente replica-se nesses exemplos passados: bem tentam as nossas esquerdas criar um porvir admirável, que têm sempre os desprezíveis reacionários a tolher-lhes o caminho!
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