Até alguns dias atrás se alguém me desafiasse para evocar a maior coincidência, que conhecera, lembraria aqueles meus dois colegas do curso da Escola Náutica de 1975, reencontrados, muitos anos depois, a 10 mil metros de altitude num voo intercontinental entre Anchorage e Tóquio. Um desembarcara de um navio e regressava a Portugal em usufruto de férias, o outro daqui partira para ingressar noutro barco algures num porto japonês.
Convenhamos que dificilmente se encontra exemplo mais extravagante do que pode ser uma coincidência. E, no entanto, uma revista científica deu-me outro, ainda mais bizarro, relacionado com uma amostra de rocha lunar trazida para a Terra em 1971 na missão Apollo 14.
Até agora essa viagem à Lua era conhecida pelo alívio dos cientistas por não se terem deparado com fracasso semelhante ao da missão anterior, mas também por Alan Shepard ter levado um taco de golfe e algumas bolas com que exercitou as suas competências de jogador na superfície lunar.
Os mais interessados pela Astronomia podem ter-se recordado de um grande calhau, a Big Bertha trazido dessa região de Fra Mauro onde o módulo da NASA aterrou. A surpresa ocorreu recentemente quando os cientistas analisaram detalhadamente a composição dessa amostra e concluíram haver nela zircónio. Ora esse mineral nunca poderia formar-se no nosso satélite por ali jamais terem existido as condições de temperatura, humidade e, sobretudo, pressão, que possibilitariam a sua formação. Nenhuma dúvida sobrava a quem logo formulou a hipótese mais óbvia: a Big Bertha viera do espaço sob a forma de um dos muitos asteroides que ali terão colidido há cerca de 3,9 mil milhões de anos.
A abordagem seguinte decorreu da pergunta mais lógica: onde teria havido condições para se formar esse zircónio? A resposta também mereceu consenso na comunidade científica: na Terra, porque, em todo o Sistema Solar, terá sido aqui que o zircónio encontrou os requisitos imprescindíveis à sua criação.
Vejamos então qual a tese, que anda a entusiasmar os meios astronómicos internacionais: há cerca de 4,011 mil milhões de anos um asteroide colidiu com a superfície da Terra e projetou para o espaço a rocha, que integraria a Big Bertha. Depois de mais de 100 milhões de anos a errar pelo espaço essa rocha cairia na Lua a cerca de 500 quilómetros de onde foi efetivamente encontrada sendo impelida pelo impacto diretamente para o alcance de Shepard.
Logo outros cientistas se interessaram pela amostra em causa, porque a deriva dos continentes resultante da deslocação das placas tectónicas, impede os geólogos de acederem a exemplares com a idade da Big Bertha e que lhes permitiriam colher elementos elucidativos quanto à realidade da Terra nessa época muito recuada: já existiria água? E os elementos orgânicos já estariam a preparar-se para assumirem formas mais complexas de se materializarem em formas de vida, mesmo que primitiva?
Começa a perspetivar-se a ideia de ser necessário recolher mais rochas na superfície da Lua para podermos conhecer como era a Terra nesse remotíssimo passado. Para já fica a coincidência de a NASA ter enviado uma missão à Lua para recolher amostras da sua superfície e a missão comandada por Alan Shepard ter regressado com uma daqui oriunda.
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