Um dos grandes acontecimentos agora em curso na capital francesa é a exposição dedicada ao arquiteto Le Corbusier no Centro Pompidou.
Considerado um visionário e um grande teórico da modernidade, ele dedicou-se igualmente à pintura e à escultura, tornando-se numa das principais referências artísticas do século XX.
O objetivo da exposição é o de dar a conhecer a obra em função da proporção humana, que ele assumiu como inspiradora da composição espacial e das dimensões de todos os seus projetos arquitetónicos.
A conceção do «Modulor» (1944) - silhueta de um corpo humano com 1,83 m -, formaliza um sistema de proporções baseado no número de ouro e que permitiria organizar todas as construções de acordo com a morfologia humana. No entanto, o «Modulor» - que se converteu num verdadeiro sistema normativo para numerosos arquitetos - parece ter sido interpretado como uma ferramenta métrica, uma medida meramente abstrata capaz de organizar a arquitetura de acordo com uma racionalidade geométrica.
A exposição aprofunda essa pesquisa de Le Corbusier em torno do corpo em movimento, que define a sua definição de euritmia (um dos cinco fundamentos da arquitetura, o «bom ritmo», a proporção). Ele trabaha esse princípio por volta de 1910 influenciado pela escola de Hellerau, cidade-jardim junto a Dresden onde o irmão, Albert Jeanneret estudava com o compositor e pedagogo Emile-Jacques Dalcroze. Nesse local privilegiado para a criação artística, desenvolvia-se o método rítmico, que regia o estudo da música e da coreografia no quadro de uma pedagogia do movimento baseada na perceção física e na cognição captada a partir da interação do espaço, do tempo e da energia. São noções que muito influenciarão Le Corbusier.
Estava, pois, tudo preparado para celebrar o génio artístico do arquiteto, quando aparece Xavier de Jarcy a estragar a festa com a publicação de um livro, que o define como fascista. É que ele esteve, de facto, fascinado por essa ideologia ao longo das décadas de 20 e de 30, quando nela viu refletida a sua vontade em construir um mundo regenerado, viril, mecânico, hierarquizado e autoritário. Tratava-se de um projeto que coincidia com as cidades ultramodernas, que imaginava, estandardizadas como se saídas de uma linha de produção. Uma espécie de termiteiras dotadas de uma estética austera e altiva ao serviço de uma nova civilização.
Le Corbusier publicou evidências desse entusiasmo em revistas violentamente contrárias à democracia, convivendo com ideólogos mais do que duvidosos e subscrevendo textos abjetos, alguns da sua própria autoria.
Apoiante convicto do regime colaboracionista de Vichy, conseguiu, porém, nunca vir a ser confrontado com tal comprometimento.
O que o livro questiona é a razão que terá levado uma personalidade tão vinculada a sonhos totalitários feitos em betão a ser tido como o maior arquiteto do século XX e como a França fez dele um verdadeiro herói nacional. Porque a sua biografia coincide com a terrível história de um fascismo na sua versão francesa.
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