Confesso ter entrado neste filme com algumas desconfianças: detesto filmes maniqueístas, sobretudo se apresentam opressores como modelos de virtudes e oprimidos como malfeitores do piorio. Mas, à medida que a história foi evoluindo, concluí estar perante algo de ambíguo, suficientemente capaz de agradar e desagradar ao mesmo tempo a quem se posiciona no conflito anglo-irlandês num dos lados. No fundo estamos perante uma intriga com algo de John Le Carré, ademais realizada por um cineasta, que já surpreendera com o documentário “Man on the Wire” em torno do funâmbulo Philippe Petit e da aventura de atravessar num cabo a distância entre as duas Torres Gémeas do World Trade Center em 1974,
De início temos uma cena passada em Belfast em 1973: o pai de Colette incumbe-a de ir-lhe buscar cigarros, mas ela consegue transferir para Sean, o irmão mais novo, a incumbência. Ora ele não tarda a ver-se no meio de um fogo cruzado entre o IRA e os ocupantes ingleses, morrendo de imediato. A memória do olhar acusador do pai a olhá-la nunca mais irá abandonar Colette.
Vinte anos depois ela é presa em Londres devido a uma tentativa falhada de atentado no metro de Londres.
Procurando valer-se dela ter um filho, que ameaçam retirar-lho para o colocarem no serviço de adoção e de a aprisionarem durante 25 anos, o MI5 obriga-a a tornar-se informadora numa altura em que se discutem as condições para a paz entre os beligerantes.
Voltando para Belfast, Colette exime-se de aparecer ao primeiro encontro com o agente de ligação, e por isso voltam-na a prender. É para não ser incriminada, que dá a primeira informação: os irmãos, Gerry e Connor, preparam-se para matar o polícia responsável por terem sido incriminados pela morte do dono da gráfica onde ela trabalhara e reconhecido traidor.
Mac, esse elo entre o MI5 e Colette, desaprova a decisão dos chefes em utilizarem as forças especiais para evitarem o atentado revelado por ela … e em que é obrigada a participar.
Um dos cúmplices de Gerry e de Connor morre, quando se preparava para iniciar a ação. Para o líder da célula independentista justificam-se sérias dúvidas quanto ao comportamento de Colette: torna-se-lhe crível ser ela a delatora, que fizera abortar o plano previsto, e pondera executá-la.
Pelo seu lado Mac também desconfia dos seus chefes: porque lhe terão vedado o acesso a dados fundamentais para compreender todos os aspetos em que recorria ao que Colette lhe contava? Parece-lhe óbvia a possibilidade de existir a intenção de proteger a identidade de outro informador, mais importante na rede irlandesa, e cuja salvaguarda incluiria «queimarem» Colette. Aprofundando a investigação descobre ser a própria mãe da rapariga a trabalhar clandestinamente com os serviços secretos ingleses desde 1973.
Para a poupar é o próprio Mac quem passa para o IRA a identificação da outra informadora com a esperada consequência: não tardará que o cadáver da anciã apareça num baldio!
As coisas não ficam, porém, nesses termos: Colette e os irmãos fazem explodir o carro de Mac, quando ele liga a ignição e logo desaparecem de Belfast sem deixarem rasto…
Num pormenor adicional cabe o espanto com o aspeto atual de Gillian Anderson: não figurasse ela no genérico enquanto chefe de Mac e não a veria nada como a Scully dos «Ficheiros Secretos»...
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