O que podem ter em comum a comunidade de origem portuguesa no Havai, um pastor protestante desembarcado na Madeira em 1838, e dela escorraçado por proselitismo, e a catolicíssima população madeirense dessa época histórica?
Muito, se acreditarmos no livro de Ferreira Fernandes que, para tal, andou a cirandar entre as terras insulares do meio do Atlântico e do Pacífico, com passagens complementares pelas Caraíbas e pelos Estados norte-americano do Illinois e do Utah.
Ao longo dessa viagem vamos conhecendo factos, que não figuram propriamente entre os mais divulgados por quem nos vem ministrando a cultura, que esforçadamente recolhemos.
Por exemplo, que o conhecido Livingstone - igualmente pastor protestante como esse Robert Kalley, que servirá de ponto de partida para a investigação do autor -, era mais do que um missionário da sua fé: no território entre Angola e Moçambique, que os britânicos depois reclamarão no Ultimato contra o Mapa Cor-de-Rosa, vai constatando a fragilidade do império português sobre o qual diz pior do que maomé do toucinho. Morto de hemorroidas no meio da savana, enquanto esperava por Stanley, Livingstone imbuíra-se de uma missão mais condizente com o conceito de espionagem ao serviço de Sua Majestade do que com a anunciada salvação das almas pagãs.
Ou então essa outra novidade de ter sido na primeira metade do século XIX, que o vinho da madeira mais terá conhecido sucesso a nível europeu. Depois, as doenças na vinha e a escolha da produção em quantidade e não na qualidade, tê-lo-ão feito perder prestígio em favor do vinho do Porto ou o Xerez.
É esse o interesse do livro de Ferreira Fernandes: não se cingindo ao projeto de informar sobre os fluxos emigratórios da população madeirense para o Havai, vai revelando interessante erudição nas muitas estórias reveladas no entretanto.
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