Nos muitos anos a percorrer as sete partidas do mundo foram muitos os portugueses, que encontrei nos sítios mais inesperados. A tese de ser fácil encontrar um português em qualquer latitude e longitude não foi difícil de aceitar tendo em conta que a diáspora lusa estendeu-se, de facto, por todo o lado. No entanto, curiosamente, nesses compatriotas encontrei muitos apelidos, mas nenhum que coincidisse com o meu.
Não teriam sido os Rochas dados à aventura, permanecendo acomodados neste cantinho à beira-mar plantado até que, chegada à minha vez, investisse finalmente por esses oceanos adentro?
Ao fim de tantos anos convenci-me desse facto, tanto mais que não deparei na própria História pátria, tão marcada para o melhor e para o pior pela gesta marítima, com qualquer Rocha que se destacasse. O único, que me aparecera, algures nas páginas dedicadas ao século XVII, pertencera à Inquisição, «notabilizando-se» pelo afã em queimar bruxas e judeus. Não se tratava, portanto, de cartão de visita, que se apresentasse num acontecimento social.
Agora, finalmente, a reportagem em forma de livro, que Ferreira Fernandes dedicou à migração madeirense, trouxe-me notícias de eventuais parentes distantes: uma tal Audrey Rocha, que o autor conheceu em Honolulu, impediu o cônsul honorário de promover uma risível comemoração quanto à chegada dos portugueses às ilhas Sandwich, como então era conhecido o Havai. E aí sim, se no longo desenrolar da «linhagem» dos Rochas, eu e essa Audrey possamos ter alguma afinidade familiar, já outro será o estado de alma perante a sageza do seu militantismo político.
É que o acontecimento, que o cônsul queria assinalar era o da chegada do navio “Eleanora” ao arquipélago, quando decorria o ano de 1786 e no seu rol de tripulação constavam nove portugueses!
O que se passou então? Logo na primeira noite fundeado na baía da ilha de Mauí, uma barcaça e o marinheiro de vigia desapareceram.
Exigindo à população local a devolução do que desaparecera, o comandante Simon Metcalfe, recebeu um bocado da quilha e os fémures do infeliz marinheiro.
Com frieza, mandou dizer para terra, que pretendia comprar mantimentos e água para prosseguir viagem.
Imaginando a possibilidade de fazerem um bom negócio, dezenas de nativos carregaram as pirogas e vieram vendê-los a bordo. Convidados a subir para o convés e encaminhados na direção da proa, foram chacinados sem qualquer misericórdia.
Teria sido essa equívoca interação entre os portugueses da tripulação e a população havaiana, que o cônsul queria comemorar e Audrey cuidou de impedir. É que se o acontecimento histórico representava uma tragédia a sua evocação festiva só poderia converter-se numa patética anedota...
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