sexta-feira, junho 19, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Comme un avion» de Bruno Podalydès (2015)

Bruno Podalydès tem sido referenciado como um realizador cujo universo tem ambições poéticas. Neste filme o protagonista é Michel, que sempre desejou ser piloto aviador, mas a quem a preguiça jamais permitiu esforçar-se para tal. Aos cinquenta anos até se descobre muito menos aventureiro do que se gostaria de reconhecer. A catarse de tal frustração acaba por encontrar solução numa viagem marítima em kayak.
Toda a lógica divertida do filme tem a ver com o que separa as ambições do personagem e do que ele acaba por cumprir. O desejo inicial de singrar na aviação depressa cai e o projeto de ser bem sucedido enquanto praticante do kayak, como se fosse um praticante de desportos radicais, tem de ser reponderado para uma dimensão bem menos ambiciosa apesar de se ter equipado como se se dirigisse até ao Pólo Norte. É que, poucos quilómetros decorridos depois da partida acampa num aprazível jardim pertencente a uma casa de hóspedes.
Estamos, pois, perante um daqueles personagens tão fáceis de encontrar à nossa volta em que se deteta uma considerável distância entre a visão megalómana das suas capacidades e o que acabam por conseguir realizar.
A partir daí acontecerá sempre a mesma coisa: quando procura retomar a sua expedição acabará invariavelmente por regressar à sua zona de conforto. Ora fica atordoado com o absinto e é encontrado no meio das árvores, ora acaba por desembocar num parque de estacionamento de  hipermercado onde tem de negociar a estadia com a respetiva segurança. Reencontrando sempre Laetitia e Mila.
A viagem iniciática abortará sucessivamente em função da incontornável ligação dele ao casulo.
Há em «Comme un avion» uma atenção constante ao detalhe. Vemos Michel a ter um prazer quase infantil na utilização dos seus gadgets, que mais não parecem do que brinquedos para adultos.
Imaginativo, Podalydès demonstra um fascínio pelos objetos, que evoca Buster Keaton, quando Michel acampa e tem por exemplo um alarme antimosquitos, que se revela bem mais insuportável dos que os mosquitos em si. Ou quando toma o pequeno-almoço no parque de estacionamento do supermercado ou nos jogos organizados por Laetitia para o atraírem a si.
Se estamos numa moral tipo carpe diem com algo de Amélie Poulain, o filme vai agradando graças às situações divertidas, que os argumentistas foram congeminando.
Como já se conhece da sua filmografia anterior, Podalydès é hábil a filmar o onírico, recorrendo a ele para infletir o ritmo e enriquecer a fotografia com uma imagem algo fantasmática.
Pode-se ser tentado a uma interpretação psicológica da história, mas estamos, sobretudo, numa proposta de momentânea descontração até ao desenlace otimista no qual Michel acaba por encontrar finalmente a satisfação afetiva.
É simples, funciona e acaba por ser agradável de se ver… sem ambicionar o estatuto de obra-prima! 

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