Tenho-o dito e redito: a Europa andou a semear ventos contra a Rússia e agora colhe a merecida tempestade.
Recordemos a História: o compromisso estabelecido entre os líderes europeus e o Kremlin depois da implosão da União Soviética pressupunha o respeito por uma área de influência, que nunca passaria por levar a NATO até às fronteiras russas.
Porém, julgando o antigo inimigo demasiado enfraquecido para reagir, os Estados Unidos e a União Europeia trataram de fomentar os movimentos pró-ocidentais, que assumiam simultaneamente um discurso acintosamente anti-Moscovo.
Vinte cinco anos depois da queda do muro de Berlim, Vladimir Putin mostra-se disposto a ressuscitar a influência do seu país, não só verificada nos tempos do regime comunista, mas até anterior, porque já assim acontecia no tempo dos czares.
Resultado: os que promoveram o distanciamento com a Rússia tremem agora perante a possibilidade de verem nos investimentos dos oligarcas, amigos de Putin, na União Europeia, a comprovação de uma estratégia de sabotagem das democracias ocidentais.
É essa a questão deixada por este documentário: será que o dinheiro investido em gasodutos, nos estaleiros navais, no futebol ou no setor imobiliário, têm objetivos mais ambiciosos do que a mera vontade de lucrar com apostas económico-financeiras?
Há quem pense tudo isso relacionado com o sonho de Putin em ver os seus peões disseminados por todo o tabuleiro europeu para levarem por diante uma estratégia maquiavélica: dividir para reinar, como sucederia por exemplo se conseguisse colocar a França e a Alemanha desavindas.
O antigo chanceler Gerhard Schröder, membro da administração da Gazprom, é um infatigável defensor do estreitamento de relações económicas com Moscovo e poderia constituir um exemplo de protagonista desse tipo de lobista. E os franceses andaram felizes e contentes com um contrato para o fornecimento de navios de guerra à marinha russa até se verem obrigados a suspender a sua entregue em nome das sanções entretanto decretadas.
Ao mostrar o regime de Putin como despótico e mafioso, apostando na convergência entre governo, serviços secretos, crime organizado e oligarcas, o documentário não ilude quanto ao que tenta demonstrar. Até por tomar como testemunha privilegiada o político Boris Nemtsov, assassinado a 27 de fevereiro, num atentado talvez um dia esclarecido à luz da guerra contínua e nunca declarada entre a CIA e o antigo KGB. Porque, verdade, verdadinha, esse “mártir da democracia” também não tinha propriamente uns telhados lá muito bem protegidos...
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