(a propósito de «Eles Vivem», um filme de John Carpenter, rodado em 1988)
O cinema norte-americano conta na sua História com muitos filmes, que poderíamos considerar militantes. Nomeadamente, nos últimos anos, a produção de documentários a denunciarem os excessos do capitalismo não tem faltado. Mas o mesmo não se passa com os filmes oriundos dos grandes estúdios hollywoodescos, vocacionados para um tipo de cinema mais adequado ao consumo otimizado de pipocas e de coca-cola.
Se existem filmes ficcionais que contestam explicitamente o tipo de sociedade vigente nos EUA eles encontram-se mais facilmente na ficção científica e no terror. O exemplo lapidar de alguns filmes de George Romero sobre a temática dos zombies é um dos mais conhecidos.
John Carpenter também manifesta essa preocupação, sobretudo depois de se ter revelado tóxico para os grandes estúdios devido aos flops financeiros de alguns dos seus títulos mais ambiciosos. São os seus projetos de baixo orçamento como este «Eles Vivem», que melhor expressam as suas opiniões ideológicas.
Como se diz na apresentação do filme no site da Cinemateca, que o exibe às 19 horas, nele encontramos um homem que “chega a Los Angeles para descobrir que a sociedade de consumo está a ser dominada por mensagens subliminares ditadas por “aliens” disfarçados de humanos. O “real” só se torna visível através de óculos escuros especiais. “Stay asleep”, “no imagination”, “submit to authority” são algumas das palavras de ordem para subjugar os humanos”.
O crítico do «Público? Luís Miguel Oliveira classificou «They Live» como “o filme da vingança de Carpenter sobre os anos oitenta, a plena assunção de uma dimensão política furiosamente combativa – este é, com muito poucos concorrentes à altura, o grande filme político do cinema americano dos anos oitenta”.
No início do filme, John Nada vê-se desempregado do estaleiro de construção em que trabalhava nos subúrbios de Los Angeles. Descobrindo ali perto um edifício onde gente estranha fabrica óculos de sol, aproveita para roubar um par. A surpresa ocorre quando, novamente a percorrer as ruas, decide proteger-se da intensa luminosidade colocando tal proteção: descobre então um mundo tenebroso em que as pessoas parecem ter sido esfaceladas e os painéis publicitários apresentam mensagens subliminais que impelem a uma submissão absoluta.
Quando tira os óculos tudo parece voltar ao normal. John conclui facilmente estar a ocorrer uma invasão extraterrestre de que ninguém se está a aperceber. Nomeadamente Frank, um outro operário com quem tenta partilhar o que descobriu. Mas ele julga-o louco…
Sob a aparência de um modesto filme de ficção científica temos uma crítica contundente à ideologia imposta por Ronald Reagan com um argumento inventivo, uma dinâmica incessante e uma mensagem política óbvia para quem a ela não quiser reagir como Frank enquanto não se apercebeu da realidade.
Infelizmente, à nossa volta, quase ninguém está dotado dos óculos miraculosos, com os quais pudesse compreender a verdadeira natureza da sociedade injusta imposta pelo sistema capitalista em que vivemos.
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