Nos últimos meses a Cinemateca tem-nos permitido ver e rever várias vezes «O Pão Nosso de Cada Dia», um filme que poderíamos facilmente classificar na categoria do cinema militante, aquele que estimula a vontade de lutar pela dignificação e pelos direitos dos mais desprotegidos.
Esta tarde, ás 15.30, renova-se essa oportunidade.
A sinopse do filme pode ser descrita assim: no início dos anos trinta, quando a Grande Depressão está no seu auge, o casal formado por John e Mary Sims sofre as agruras do desemprego. Por sorte chega-lhes às mãos a herança de uma quinta abandonada.
Como nada conhecem das atividades agrícolas convidam um camponês arruinado chegado do Minnesota para os ajudar no árduo desafio a que se propõem. E, como compreendem a importância do trabalho coletivo alargam o convite, através de cartazes, a outros desempregados que estejam dispostos a colocar as suas competências ao serviço do projeto cooperativo que lançam.
Não tarda que cada família possua a sua própria casa, muito embora uma das recém-chegadas, Sally, não enjeitasse a possibilidade de afastar Mary para se aboletar com John.
O triângulo amoroso não se chega a criar já que a seca põe em risco a colheita ao ponto de John equacionar o fracasso do projeto. Mas esse desencorajamento pouco dura, porque logo aposta na criação de um canal de regadio para os campos em risco, incentivando o esforço coletivo.
Tem uma dimensão épica a da construção dessa obra hídrica, que representa a vitória do esforço humano sobre as dificuldades que se lhe possam opor.
A propósito do filme, King Vidor escreveria mais tarde: “A juventude não imagina o que foi a crise do início dos anos 30 com o desemprego, a depressão e as marchas da fome.
Quis, então, retomar os mesmos protagonistas de «The Crowd», enquanto estereótipos de um casal norte-americano ameaçado pelos problemas dessa época.
(…) Chaplin apoiou-me o projeto e assinou-me o contrato de distribuição com a United Artists. Fui então procurar um banqueiro, mas quando ele leu a passagem do argumento em que um banco conseguia que um xerife vendesse as terras num leilão apesar da oposição dos camponeses falidos, recusou-me o financiamento. Eu opunha-me a cortar uma cena bem ilustrativa do que, então, se estava a passar no país.
Criei então a minha própria produtora hipotecando a minha casa, o carro e as economias para conseguir levar a peito uma produção de baixo orçamento (150 mil dólares).
Estão aqui aduzidas razões bastantes que justificam o conhecimento desta obra-prima do cinema norte-americano dos anos 30.
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